Lembram botões eléctricos os meus olhos.
Chego os dedos a eles e carrego.
Acendem-se de imagens. Fico cego...
Sinto que as coisas morrem nos teus olhos.
Há entre mim e a Noite um reposteiro.
Pressinto-o no meu ao vê-lo. Ânsia perdida...
Eu próprio às vezes julgo ser ponteiro
No relógio que marca minha Vida.
E vejo a minha infância ser de seda.
Ando com ela ao colo pela alameda
é um eco de mim em idas naves...
Cai-me na cor do Outrora cinza preta.
E sinto o meu passado na gaveta
Da cómoda a que alguém perdeu as chaves.
in Cem Poemas Portugueses do Adeus e da Saudade
Selecção, organização e introdução de José Fanha e José Jorge Letria
Terramar
Alfredo Pedro de Meneses Guisado (nasceu a 30 de Outubro de 1891 em Lisboa, onde faleceu a 2 de Dezembro de 1975).
Ler do mesmo autor:
Outrora
Apagou-se por fim o incerto lume;
O Baloiço
Um Poema de "Elogio da Desconhecida" - Alfredo Guisado
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