Amor, morte, poesia, política, actualidade, futebol, efemérides, solidão, paz, humor, musica...tudo e nada; Here we talk about life, love, death,
On this day in History, poetry, politics, football (soccer), solitude, peace, humour, music ... nothing and all.
Páginas
2013-05-31
Líderes europeus à procura...
Estão à procura da solução da crise? Ou será ainda à procura do brinco do Vítor Batista?
Uma coisa é bem compreensível: enquanto uns (em que se identificam claramente os portugueses) estão à procura de cabeça baixa a Sr. Merkl também procura algo e certamente totalmente diferente, de cabeça bem levantada; obviamente está virada para outro lado!
Tão grande o Amor que nos abraça - Wilson Bueno
O tempo, a infância, prados e pinheiros
Agora em que sei que estás morrendo
E morrem contigo as gastas ilusões,
O irmão já morto, vosso útero.
E de mim os sonhos loucos.
Tudo é a antevisão do silêncio longo
Que há, meu Deus!, de separar-nos.
Dissolução da ausência, do corpo, da casa
Morrem bromélias, alamandas e os cactos
De vosso jardim, amor, Mãe, tão casto,
Aqui onde cato de mim caco a caco.
Extraído daqui
Wilson Bueno (Jaguapitã, 13 de março de 1949 - Curitiba, 31 de maio de 2010)
2013-05-30
No Jardim da Penumbra - Ribeiro Couto (na passagem dos 50 anos sobre o seu desaparecimento)
A tarde triste vai morrendo... desfalece...
Sobre a pedra de um banco um vulto doloroso
Vem sentar-se, isolado, e como que se esquece.
Deve ser um secreto, um delicado gozo
Permanecer assim, na hora em que a noite desce,
Anônimo, na paz do jardim silencioso,
Numa imobilidade extática de prece.
Em lugar tão propício à doçura das almas
Ele vem meditar muitas vezes, sozinho,
No mesmo banco, sob a carícia das palmas.
E uma só vez o vi chorar, um choro brando...
Fiquei a ouvir... Caíra a noite, de mansinho...
Uma voz de menina ao longe ia cantando.
Ruy Lopes Esteves Ribeiro de Almeida Couto nasceu em Santos (SP) a 12 de Março de 1898 e faleceu em Paris a 30 de Maio de 1963. Foi jornalista em São Paulo (1915/18) e, após concluído o curso de Direito (1919), no Rio (1919/22). Promotor público dos estados de São Paulo (1924/ 25) e de Minas Gerais (1926/28), acabou por se dedicar à carreira consular, a partir desta última data: Marselha, Paris, Haia, Lisboa, Belgrado. Estreou-se em livro com os «Poemetos de Ternura e Melancolia» (1924), dando origem ao penumbrismo (confidência, surdina, suavidade e meios tons). O seu avô materno era português e ele próprio ainda era primo do escritor Adolfo Casais Monteiro, o que provocou o volume de «Correspondência de Família» (1933). Quando permaneceu em Portugal como secretário de embaixada, reuniu as suas produções poéticas de 1914 a 1943 no volume «Dia Longo» (1944) e publicou também «Uma Noite de Chuva e outros contos». Depois, editar-se-iam ainda «Entre Mar e Rio» (1952) e «Sentimento Lusitano» (1963).
Nota biobliográfica extraída de «A Circulatura do Quadrado - Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria É a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004).
Ler do mesmo autor: Noite de Tormenta; Santos; O Longe e o Perto; Elegia; Fado de Maria Serrana
2013-05-29
Tarde - Juan Ramón Jiménez
Cada minuto deste ouro,
não é toda a eternidade?
Embala-o a brisa pura
sem pressa, como se já
fosse todo o ouro que
tivesse que compassar.
- Ramos últimos, divinos,
imateriais, em paz;
ondas do mar infinito
de uma tarde sem passar! -
Cada minuto deste ouro,
é pulsação imortal
do meu coração, radiante
por toda a eternidade?
Juan Ramón Jiménez nasceu em Moguer, no sul da Andaluzia, em 23 de Dezembro de 1881, morreu a 29 de Maio de 1958 (Foi Prémio Nobel da Literatura em 1956).
2013-05-28
Exortação - Miguel Torga
Musa, faz-me cansar!
Fura-me os olhos se preciso for
Vadio rouxinol encarcerado
Não me deixes calado
Aos ferros verticais da minha dor.
Força-me o desespero emudecido
E solta o meu protesto em melodia.
Noite é já neste mundo anoitecido
Onde só tem sentido
A luz secreta que nos alumia.
Obriga-me a sonhar outra floresta
De homens em liberdade.
Aves na sua festa.
Que ninguém prende, que ninguém molesta
Com as fronteiras de nenhuma grade.
in Diário VI, 1953
Poesia Completa, Miguel Torga, Publicações Dom Quixote
2013-05-26
Última Carta - Antônio Tavernard
Por que não me vens ver? Estou doente...
É possível que morra com o luar...
Anda, lá fora, um vento, tristemente,
as ilusões das rosas a esfolhar.
E, aqui dentro, na alcova penumbrada,
onde arquejo, sozinho, sem sequer
a invisível presença abençoada
de um pensamento meigo de mulher,
há o desconsolo imenso, a imensa dor
de alguém que vai morrer sem seu amor...
De quando em quando,
o coração, que sinto
cada vez mais cansado, se arrastando,
marcando o tempo, recontando as horas,
pergunta-me, num sopro quase extinto,
quando é que virás...
Volta depressa, sim?... Se te demoras,
já não me encontrarás...
Ouço, longe, a gemer de harpas eólias...
É de febre... Começo a delirar...
Desabrocham, no parque, as magnólias...
Vem surgindo o luar...
E, como a luz do luar que vem nascendo,
eu vou aos poucos, meu amor, morrendo...
Antônio de Nazaré Frazão Tavernard nasceu na Vila São João de Pinheiro, atual Icoaraci, em Belém, Pará, a 10 de outubro de 1908 — m. Belém a 26 de maio de 1936
2013-05-25
Musical suggestion of the day: Queixas das Almas Jovens Censuradas - José Mário Branco
E uma alma para ir à escola
Mais um letreiro que promete
Raízes, hastes e corola
Dão-nos um mapa imaginário
Que tem a forma de uma cidade
Mais um relógio e um calendário
Onde não vem a nossa idade
Dão-nos a honra de manequim
Para dar corda à nossa ausência
Dão-nos um prémio de ser assim
Sem pecado e sem inocência
Dão-nos um barco e um chapéu
Para tirarmos o retrato
Dão-nos bilhetes para o céu
Levado à cena num teatro
Penteiam-nos os crâneos ermos
Com as cabeleiras dos avós
Para jamais nos parecermos
Connosco quando estamos sós
Dão-nos um bolo que é a história
Da nossa história sem enredo
E não nos soa na memória
Outra palavra que o medo
Temos fantasmas tão educados
Que adormecemos no seu ombro
Somos vazios despovoados
De personagens de assombro
Dão-nos a capa do evangelho
E um pacote de tabaco
Dão-nos um pente e um espelho
Pra pentearmos um macaco
Dão-nos um cravo preso à cabeça
E uma cabeça presa à cintura
Para que o corpo não pareça
A forma da alma que o procura
Dão-nos um esquife feito de ferro
Com embutidos de diamante
Para organizar já o enterro
Do nosso corpo mais adiante
Dão-nos um nome e um jornal
Um avião e um violino
Mas não nos dão o animal
Que espeta os cornos no destino
Dão-nos marujos de papelão
Com carimbo no passaporte
Por isso a nossa dimensão
Não é a vida, nem é a morte
Poema de Natália Correia
Música e Voz: José Mário Branco nascido no Porto a 25 de Maio de 1942
Impressionante poema de Natália Correia numa composição espectacular de José Mário Branco. Como é bela a música portuguesa... e deixo aqui a lembrança de que dista de 1971 (Another brick in the wall dos Pinkfloyd é de 1979! )
2013-05-24
Esperança - Fernando Semana
Espero
Desespero
Por aquela notícia boa
seja ela qual for
- «ó joaninha voa voa
que o teu pai está em Lisboa» -
que amacie este amargor
e que sem saber ler nem escrever
dê sentido a este viver
24.maio.2013
Fernando Semana é economista e nasceu em Valbom, concelho de Gondomar, a 12 de outubro de 1957
2013-05-23
DIVINO ERRO - Mário Rossi
Cansado de curtir o dia-a-dia
sem qualquer atração do Paraíso,
o Criador resolveu que era preciso
sair da fossa e da monotonia.
Com a argila celeste, de improviso,
compôs um alto estudo de estesia,
modelando a mulher, que lhe surgia
com a graça e a malícia de um sorriso.
Previu que ali forjava a sua fama
mas, com o molde ainda inacabado,
sentiu-se exausto e se jogou na cama.
Foi seu erro... o sono foi funesto.
Mefisto, apologista do pecado,
aproveitou a chance... e fez o resto.
Mario Rossi (nasceu em 23/5/1911 em Petrópolis, RJ, faleceu em 12/10/1981 no Rio de Janeiro, RJ).
2013-05-22
Minha terra - Cesídio Ambrogi
Meu vilarejo um cromo estilizado.
O Largo da Matriz. Uma palmeira.
A cadeia sem preso nem soldado.
Calma em tudo. Silêncio. Pasmaceira.
Andorinhas em bando no ar lavado.
O rio. O campo. Além de uma porteira,
Um velho casarão acaçapado.
Nossa casa tranqüila e hospitaleira.
O Cruzeiro lá em cima, em plena serra,
Braços abertos para a minha Terra...
E, eu criança e feliz. Que doce idade !
Hoje, porém meu Deus, quanta emoção!
Do meu peito no triste mangueirão,
Cavo e soturno, o aboio da saudade...
Cesídio Ambrogi (Natividade da Serra, São Paulo, 22 de maio de 1893 — Taubaté, São Paulo, 27 de julho de 1974).
Trovas - Cesídio Ambrogi
Cruz de Ferro
2013-05-21
Pedido - Olga Savary (com os parabéns pela passagem do octagésimo aniversário)
Quando eu estiver mais triste
mas triste de não ter jeito,
quando atormentados morcegos
– um no cérebro outro no peito –
me apunhalarem de asas
e me cobrirem de cinza,
vem ensaiando de leve
leve linguagem de flores.
Traze-me a cor arroxeada
daquela montanha – lembra?
que cantaste num poema.
Traze-me um pouco de mar
ensaiando-se em acalanto
na líquida ternura
que tanto já me embalou.
Meu velho poeta canta
um canto que me adormeça
nem que seja de mentira.
Olga Savary (nasceu em Belém, Pará, 21 de maio de 1933)
2013-05-20
Perdimento - Maria Teresa Horta
De tanto eu amar-te
e desejar-te
a tirar da paixão seu alimento
Não sei se é agrura
se sustento
este lento caminhar pelo incêndio
E de tanto misturar
meu corpo ao teu
e ao teu desdizer meu pensamento
Não entendo se amar-te
me sustém
ou se pelo avesso é perdimento
in Os dias do Amor, um poema para cada dia do ano, Ministério dos Livros
Maria Teresa Horta (nasceu em Lisboa a 20 de Maio de 1937)
Ler da mesma autora, neste blog:
Segredo
Poema sobre a recusa
Morrer de Amor
Joelho
2013-05-19
Além-tédio - Mário de Sá-Carneiro
Nada me expira já, nada me vive -
Nem a tristeza nem as horas belas.
De as não ter e de nunca vir a tê-las,
Fartam-me até as coisas que não tive.
Como eu quisera, enfim de alma esquecida,
Dormir em paz num leito de hospital...
Cansei dentro de mim, cansei a vida
De tanto a divagar em luz irreal.
Outrora imaginei escalar os céus
À força de ambição e nostalgia,
E doente-de-Novo, fui-me Deus
No grande rastro fulvo que me ardia.
Parti. Mas logo regressei à dor,
Pois tudo me ruiu... Tudo era igual:
A quimera, cingida, era real,
A própria maravilha tinha cor!
Ecoando-me em silêncio, a noite escura
Baixou-me assim na queda sem remédio;
Eu próprio me traguei na profundura,
Me sequei todo, endureci de tédio.
E só me resta hoje uma alegria:
É que, de tão iguais e tão vazios,
Os instantes me esvoam dia a dia
Cada vez mais velozes, mais esguios...
Mário de Sá-Carneiro (n. Lisboa a 19 Mai 1890, m. em Paris (suicidio) a 26 Abr 1916)
Ler do mesmo autor:
Quase;
Dispersão;
Último Soneto
O Recreio
Fim
Crise Lamentável
Escavação
Ápice
Quasi
I lost myself within myself... (tradução parcial do poema Dispersão)
A Queda
IX - Como eu não possuo
2013-05-17
ARTE POÉTICA - José Emílio-Nelson
Demão depois da lixa, zarcão e betume na madeira, a sonoridade
da tinta nas passagens em que deixei que os crisântemos que
se interpunham fossem mais do verso que os espelhasse. Li até
escurecer os olhos. Abandonado, vale dizer.
Para uns, ainda, a poesia não dispensa
que o autor nas horas certas contemple as flores de papel. Era
assim pacientemente a florescência de um verso crescia no
canteiro. Eu, no toucador, agora debruçado escrevo
vírgulas que, de algum modo, dificultam pelo esforço da repetição
o andar da tarde. E o entardecer deixa que, na dobra das
nuvens, toque o canto rouco que escreve sem balbucios a única
página celeste folheada.
(in Mosaico)
José Emílio de Oliveira Marmelo e Silva, que usa o pseudónimo de José Emílio-Nélson, nasceu em Espinho, em 17 de Maio de 1948
Ler do mesmo autor, neste blog:
Canção Punitiva
Mahler
2013-05-16
Tríptico - Alfredo Brochado
De uma olaia da Avenida!
Ela tomba e ninguém olha
A morte daquela vida.
No entanto, mesmo caindo
Com suavíssima leveza,
É qualquer coisa de findo
À face da natureza.
Tua vida, a minha vida,
A nossa vida, afinal,
É aquela folha caída,
Num dia de vendaval.
Extraído de Obra Poética de Alfredo Brochado, Edição de José Carlos Seabra Pereira, Lello Editores
Alfredo Monteiro Brochado (n. em Amarante a 3 de Fevereiro de 1897 e suicidou-se em Lisboa a 16 de Maio de 1949).
Ler do mesmo autor neste blog:
Misticismo
Miniaturas
Desvio
Na Atitude Saudosa de Quem Chora
Súplica
Confissão
Silêncio
2013-05-15
Por cousas que nan tem cura - João de Meneses
Por cousas que nan têm cura
hei por mor desaventura
qualquer dita que me vem,
nem desejo nenhum bem
por nam ver quam pouco dura.
Ditoso de quem viver
livre, fora d'esperança,
digo eu sem no saber,
coitado de quem alcança
ganhá-la para a perder.
Pois tudo tam pouco dura,
seguro que nam segura
nam no quero de ninguém
nem desejo nenhum bem
com despreços de mestura.
in Rosa do Mundo, 2001 Poemas para o Futuro, Assírio & Alvim
D. João de Meneses, c. 1460 - Azamor, Marrocos 15 de maio de 1514
2013-05-14
Nostalgia - José Santos Chocano
Hace ya diez años
que recorro el mundo.
¡He vivido poco!
¡Me he cansado mucho!
Quien vive de prisa no vive de veras,
quien no echa raíces no puede dar frutos.
Ser río que recorre, ser nube que pasa,
sin dejar recuerdo ni rastro ninguno,
es triste y más triste para quien se siente
nube en lo elevado, río en lo profundo.
Quisiera ser árbol mejor que ser ave,
quisiera ser leño mejor que ser humo;
y al viaje que cansa
prefiero terruño;
la ciudad nativa con sus campanarios,
arcaicos balcones, portales vetustos
y calles estrechas, como si las casas
tampoco quisieran separarse mucho...
Estoy en la orilla
de un sendero abrupto.
Miro la serpiente de la carretera
que en cada montaña da vueltas a un nudo;
y entonces comprendo que el camino es largo,
que el terreno es brusco,
que la cuesta es ardua,
que el paisaje es mustio...
¡Señor! ¡Ya me canso de viajar! ¡Ya siento
nostalgia, ya ansío descansar muy junto
de los míos!... Todos rodearán mi asiento
para que les diga mis penas y mis triunfos;
y yo, a la manera del que recorriera
un álbum de cromos, contaré con gusto
las mil y una noches de mis aventuras
y acabaré en esta frase de infortunio:
—¡He vivido poco!
¡Me he cansado mucho!
José Santos Chocano Gastañodi (Lima, Perú, 14 de maio de 1875 - Santiago do Chile, 13 de julho de 1934)
2013-05-13
A Tentação - Murilo Mendes
Diante do crucifixo
Eu paro pálido tremendo
“Já que és o Verdadeiro Filho de Deus
Desprega a humanidade desta cruz”.
Murilo Monteiro Mendes (n. em 13 de Maio de 1901 em Juíz de Fora, Minas Gerais — m. em Lisboa a 13 de agosto de 1975)
Ler do mesmo autor, neste blog:
Jandira
Metafísica da Moda Feminina
Choro do poeta actual
2013-05-12
Poema de Aniversário - Alberto da Costa e Silva
as mãos em flores, que trazia, parte
hei de esperar que pare este mudar-se
de outras claras manhãs nesta tristeza?
Alto sonhamos com imóveis águas,
setembros permanentes, garças fixas,
mas os olhos e as mãos nada conquistam,
e enegrece na mesa a maçã limpa.
Carda o rude luar a lã noturna.
A vida é só, e o pranto, pequenino.
Que fazer deste rastro sem sentido
que vem ao homem e parte do menino?
Alberto Vasconcellos da Costa e Silva (São Paulo, 12 de maio de 1931)
Abuses and awards - Andrei Voznesensky
he needs no awards, no fame.
A star has no setting whatever,
no black nor a golden frame.
A star can't be killed with a stone, or
award, or that kind of stuff.
He'll bear the blow of a fawner
lamenting he's not big enough.
What matters is music and fervour,
not fame, nor abuse, anyway.
World powers are out of favour
when poets turn them away.
Translation by Alec Vagapov
Andrei Andreyevich Voznesensky, em russo Андре́й Андре́евич Вознесе́нский (nasceu em Moscovo na então União Soviética a 12 de maio de 1933 e faleceu em Moscovo, Rússia, a 1 de junho de 2010)
2013-05-11
ORAÇÕES DO AMOR - III - António Fogaça - Na passagem dos 150 anos do nascimento do poeta barcelense que só viveu 25 anos
Não sei o que tu pensas deste amor,
Nem, sequer, se um momento, um só que fosse,
Desejas dar alívio à imensa dor
Que esta paixão me trouxe...
É bem fundo e pesado o meu martírio
Em que a ansiedade é como um negro açoite;
Mas quem pode saber, formoso lírio,
O que o Sol pensa da Noite?!
António Maria Gomes Machado Fogaça (n. Barcelos, 11 Maio 1863, m. Coimbra, a 27 Nov. 1888).
«Fogaça foi um desses cedo-mortos que tiveram unicamente na arte como na vida, páginas de mocidade. A poesia de António Fogaça é quase sempre risonha de prazer, voluptuosa, quente d'amor lânguida e macia como essas peçasinhas que ele dóba para as suas amadas que, mesmo morrendo, ficam vivas para ele...» (Manoel de Sousa Pinto in Arte & Vida, nº. 1 - Novembro de 1904).
Ler do mesmo autor neste blog: Desgostosa; Os Rouxinóis; Visão dum leito.
2013-05-10
Poemas para a noite invariável IV - Luiza Neto Jorge
Gasto-me à espera da noite
impraticável
fiel
sugo os lábios da noite
invariável caio
nos poços da noite
Gasto-me à espera da noite alheia
amassada de gargalhadas doces e areia
Amor anoitecido vem
tecer-me um vestido
nocturno
Atraiçoo os anúncios luminosos
até a lua nova sabe a ausente
- e eu anavalhei-te com naifas de ansiedade -
Estou à espera da noite contigo
venham as pontes ruindo sob os barcos
venham em rodas de sol
os montes os túneis e deus
Estou à espera da noite contigo
livre de amor e ódio
livre
sem o cordão umbilical da morte
livre da morte
estou
à espera
da noite
in A noite vertebrada
Maria Luiza Neto Jorge (n. em Lisboa a 10 Mai 1939; m. em Lisboa a 23 Fev 1989)
Ler da mesma autora, neste blog:
Nas Cidades do Sul
Baixo-Relevo
Desinferno II
Minibiografia
As casas vieram de noite
O poema ensina a cair
Magnólia
Ritual
Acordar na Rua do Mundo
2013-05-09
Cúmulo da desfaçatez e sem vergonha: PP nomeado para o jogo do título
Basta ver os links (a título meramente exemplificativo):
O Benfica empatou no Dragão e só não ganhou porque o árbitro não deixou
Proença 1 Benfica 1
O que Proença anda a fazer?
Ainda o polémico lance do Porto-Sporting
Vetar Proença? Honra ao mais prejudicado, o Benfica!
As Palavras da Fé - Friedrich Schiller
Há três palavras, plenas de sentido,
Que andam de boca em boca, e vos proponho:
Não as sei por saber, nem só de ouvido,
Só o coração delas dá testemunho:
A humanidade sem valores vai ficar,
Se a fé nas três palavras renegar.
Livres fomos criados, livre somos,
Ainda que em cadeias nascidos;
Não vos confunda a turba e seus assomos,
Nem abusos de loucos furibundos:
Perante o escravo que quebra os seus grilhões,
perante o homem livre, não temais!
E a virtude não é palavra vã,
Uma vida a podemos cultivar;
E inda que um homem tropece, em seu afã,
À divina pode sempre aspirar.
E o que o siso dos sisudos não alcança,
Singela o faz um'alma de criança.
E um Deus é, e viva a Sua vontade,
E inda que a humana possa vacilar,
Pra lá de tempo e espaço há a verdade
Da ideia suprema a fermentar.
E se tudo gira em mudança eterna,
A lei da permanência nos governa.
Guardai as palavras plenas de sentido,
Passai-as de boca em boca, vos proponho;
E se não as souberdes só de ouvido,
Voss'alma delas dará testemunho:
E a humanidade seu valor vai manter,
Se a fé nas três palavras não perder.
Trad. João Barrento in Rosa do Mundo, 2001 Poemas para o Futuro, Assírio & Alvim
Johann Christoph Friedrich Schiller nasceu a 10 de Novembro de 1759 em Marbach am Neckar, Württemberg — morreu a 9 de Maio de 1805 em Weimar, Saxe-Weimar)
Musical suggestion of the day: Remembering Lena Horne
Lena Mary Calhoun Horne (June 30, 1917 – May 9, 2010)
2013-05-08
O Momento - Edgar Carneiro (no centenário do nascimento do poeta)
Que se fala
Não movido por horas
Ou por dias
Mas apenas e só
Do abrir e fechar
Das asas e das flores,
Do som, do tom, das cores
De tudo que se move
Neste mundo
E como um círio
Ou súbito relâmpago
Se ilumina e desfaz
Em menos dum segundo.
In "Périplo"
Edgar Carneiro nasceu em Chaves em 8 de Maio de 1913 e faleceu em V. N. de Gaia em 15 de Janeiro de 2011.
2013-05-07
Adeus - Orestes Barbosa
Adeus, palavra pequena
Tão grande na tradução
Adeus que eu disse com pena
Sangrando o meu coração
Eu disse adeus disfarçando
Calando a sinceridade
Com os olhos lacrimejando
Pensando já na saudade
Adeus, recordo chorando
Na mágoa dos dias meus
As tuas mãos se agitando
De longe dizendo adeus
Adeus, gaivotas voando
De tarde junto do cais
Um lenço branco acenando
Um sonho que não vem mais
Orestes Dias Barbosa (n. em 7 Maio 1893 no Rio de Janeiro (RJ); † em 15 Ago 1966 no Rio de Janeiro (RJ))
Ler no Nothingandall do mesmo autor: Chão de Estrelas
2013-05-06
O centro do mundo: 16 - Amadeu Baptista
Não leves nenhum desespero para casa.
Os que sofrem hoje
não são os que sofrerão amanhã.
Os que imploram hoje
não são os que implorarão amanhã.
A medida de todas as coisas
é como a mulher que chora no centro do mundo.
Chora para constatar que está viva.
Serve-te de um copo de leite.
Vê como é branco.
Constata como é puro.
Observa como só até um preciso momento
é útil e fruível,
Qualquer pergunta que possas fazer sobre ti
terá sempre uma única resposta
dentro de ti.
És como o leite,
puro e fruível
até ao preciso momento em que se ferve
ou azeda.
Amadeu Baptista nasceu no Porto a 6 de Maio de 1953.
Do mesmo autor no Nothingandall:
Uma Simples Troca de Mãos Para Que a Melodia Vingue
Arte do Regresso 17
2013-05-05
Anunciação - Luís Amaro
Rasgando de esperança a noite enorme
E iluminando o coração soturno
Que mora, exilado, em mim.
Teu vulto vence a névoa do crepúsculo
e detém meus passos sem destino
A beira da noite hiante e pálida
Com, lá no fundo, a minha imagem
Desfigurada e triste, arrependida...
E tua lembrança é o perdão, a luz,
A vida que desponta nas raízes
Mais íntimas do ser.
Vens, irreal e presente, ao meu encontro,
Cabelos soltos ao vento da manhã,
E dos teus lábios desprende-se a Palavra...
Flui de teus olhos a música das fontes!
in «Poesia 71»,
Porto: Editorial Nova, 1972
Francisco Luís Amaro, nasceu em Aljustrel, em 05.05.1923
2013-05-03
Just a Perfect Day: BENFICAAAA!!!!!!
2013-05-02
Atração e Repulsa - Adelino Fontoura
Eu nada mais sonhava nem queria
Que de ti não viesse, ou não falasse;
E como a ti te amei, que alguém te amasse,
Coisa incrível até me parecia.
Uma estrela mais lúcida eu não via
Que nesta vida os passos me guiasse,
E tinha fé, cuidando que encontrasse,
Após tanta amargura, uma alegria.
Mas tão cedo extinguiste este risonho,
Este encantado e deleitoso engano,
Que o bem que achar supus, já não suponho.
Vejo, enfim, que és um peito desumano;
Se fui té junto a ti de sonho em sonho,
Voltei de desengano em desengano.
Adelino Fontoura Chaves (n. em Axixá, Maranhão, Brasil a 30 Mar.1859 – m. em Lisboa, Portugal a 02 Maio 1884)
Ler do mesmo autor:
Celeste
Fruto Proibido
Página Desconhecida
Jornada