Musa, faz-me cansar!
Fura-me os olhos se preciso for
Vadio rouxinol encarcerado
Não me deixes calado
Aos ferros verticais da minha dor.
Força-me o desespero emudecido
E solta o meu protesto em melodia.
Noite é já neste mundo anoitecido
Onde só tem sentido
A luz secreta que nos alumia.
Obriga-me a sonhar outra floresta
De homens em liberdade.
Aves na sua festa.
Que ninguém prende, que ninguém molesta
Com as fronteiras de nenhuma grade.
in Diário VI, 1953
Poesia Completa, Miguel Torga, Publicações Dom Quixote
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