Como voltar feliz ao meu trabalho
se a noite não me deu nenhum sossego?
A noite, o dia, cartas dum baralho
sempre trocadas neste jogo cego.
Eles dois, inimigos de mãos dadas,
me torturam, envolvem no seu cerco
de fadiga, de dúbias madrugadas:
e tu, quanto mais sofro mais te perco.
Digo ao dia que brilhas para ele,
Que desfazes as nuvens do seu rosto;
digo à noite sem estrelas que és o mel
na sua pele escura: o oiro, o gosto.
Mas dia a dia alonga-se a jornada
e cada noite a noite é mais fechada.
Transcrito de Obras de Carlos de Oliveira, Editorial Caminho, Lisboa, 1992.
SONNET 28
How can I then return in happy plight,
That am debarred the benefit of rest?
When day’s oppression is not eased by night,
But day by night and night by day oppressed?
And each (though enemies to either’s reign)
Do in consent shake hands to torture me,
The one by toil, the other to complain
How far I toil, still farther off from thee.
I tell the day to please him thou art bright,
And dost him grace when clouds do blot the heaven;
So flatter I the swart-complexioned night,
When sparkling stars twire not thou gild’st the even.
But day doth daily draw my sorrows longer,
And night doth nightly make grief’s length seem stronger.
in Complete Sonnets and Poems, edited by Colin Burrow, Oxford University Press, 2002.
William Shakespeare (b. Stratford-upon-Avon, Warwickshire, England, born probably on 23 April 1564 - baptised 26 April 1564; died Stratford-upon-Avon, Warwickshire, England, 23 April 1616)
De ti me separei na Primavera
Sonnet XVIII / Soneto XVIII
Music to Hear (Sonnet VIII)