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2014-04-18

Beatrice - Antero de Quental

Depois que dia a dia, aos poucos desmaiando,
Se foi a nuvem de ouro ideal que eu vira erguida;
Depois que vi descer, baixar do céu da vida
Cada estrela e fiquei nas trevas laborando:

Depois que sobre o peito os braços apertando
Achei o vácuo só, e tive a luz sumida
Sem ver já onde olhar, e em todo vi perdida
A flor do meu jardim, que eu mais andei regando:

Retirei os meus pés da senda dos abrolhos,
Virei-me a outro céu, nem ergo já meus olhos
Senão à estrela ideal, que a luz do amor contém...

Não temas pois - Oh vem! o Céu é puro, e calma
E silenciosa a terra, e doce o mar, e a alma...
A alma! não a vês tu? mulher, mulher! oh vem!

Antero Tarquínio de Quental (n. Ponta Delgada, S.Miguel, Açores a 18 Abr. 1842; m. em Ponta Delgada a 11 Set. 1891)

in Os dias do Amor, um poema para cada dia do ano
recolha, seleção e organização de Inês Ramos
Prefácio de Henrique Manuel Bento Fialho
Ministério dos Livros, 1ª. edição, 2009

Ler do mesmo autor, neste blog:
Visita
Despondency
Idílio
Consulta
O Que Diz a Morte
Ideal
Velut Umbra
Pepa (excerto)
Palácio da Ventura
Versos escritos num exemplar das «Flores do Mal»
Mors-Amor

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