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2014-04-01

Autorretrato - Oleg Almeida

Não quero ser político
nem empresário, nem executivo;
ainda menos, líder da maioria vitoriosa.
Não me atrai a perspectiva
de viver preso ao telefone,
de dar entrevistas a torto e a direito,
de prestar contas ou, Deus me livre, depoimentos
no fim da jornada.
Não é que pregue a modéstia
que, aliás, não faz parte do meu caráter,
mas, vendo o ápice do Olimpo coberto de nuvens,
duvido que valha mesmo a pena atingi-lo.
De modo nenhum me seduz a glória,
sobretudo a póstuma,
bem como a opulência exagerada,
pois, com o tempo, esta perece nas baixas da bolsa
ou passa a juntar as baratas,
enquanto aquela cede lugar a outros louvores
falsos ou verdadeiros.
Não é que me curve perante a realidade,
mas, certo de que nas pontas da básica equação
ficam o tombo e o coqueiro igualmente concretos,
acho mais razoável manter-me na defensiva,
distante dos cargos de alto nível.
Não gosto, enfim, de vestir-me de preto e branco,
tampouco de integrar os esquemas
montados pela vontade alheia:
temo as cores monótonas,
e deixa-me trêmulo a simetria que se alinha à morte.
Não é que seja covarde por natureza,
mas, apegado a tradições seculares,
prefiro a lancha ao navio
e ao trombone, a flauta.
O íntimo sonho que tenho
consiste apenas em acordar cedinho –
toda manhã, de domingo a sábado – ,
abrir os olhos nessa penumbra cinzenta,
pela qual se costuma julgar de como será o dia recém-nascido,
ao lado da mulher amada,
que dorme de bruços, nua e confiante,
beijar os ombros aveludados dela
e, dando-me conta de que estou vivo,
agradecer, humilde, a quem criou a vida
por tê-la criado tão simples e cheia de bagatelas maravilhosas.
Numa palavra, evito acrescentar ao que foi concebido pequeno,
e, dada a mínima diferença entre vencido e vencedor,
não quero ser Davi nem Golias...
Quero ser Eu.


Oleg Andréev Almeida, poeta lusófono de procedência eslava, nasceu em 1 de abril de 1971 na Bielo-Rússia, então uma das repúblicas da extinta URSS.


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