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2010-11-30

Não quero nada só o silêncio do teu abraço...


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Se Alguém Bater - Fernando Pessoa (na passagem do 75º aniversário da sua morte)



Se alguém bater um dia à tua porta,
Dizendo que é um emissário meu,
Não acredites, nem que seja eu;
Que o meu vaidoso orgulho não comporta
Bater sequer à porta irreal do céu.

Mas se, naturalmente, e sem ouvir
Alguém bater, fores a porta abrir
E encontrares alguém como que à espera
De ousar bater, medita um pouco. Esse era
Meu emissário e eu e o que comporta
O meu orgulho que já desespera.
Abre a quem não bater à tua porta!

5-9-1934
in Obra Essencial de Fernando Pessoa - Poesia do Eu - edição Richard Zenith - Assírio & Alvim

FERNANDO António Nogueira PESSOA, nasceu a 13 de Junho de 1888 e faleceu em Lisboa a 30 de Novembro de 1935.

Ler, neste blog, do mesmo autor:
Dá a surpresa de ser
Deus Sabe Melhor Do Que Eu
Suspense / Ansiedade
Tabacaria
Liberdade
Não Quero Recordar Nem Conhecer-me (Ricardo Reis)
Intervalo - Bernardo Soares
O guardador de rebanhos - X (Alberto Caeiro)
O guardador de rebanhos - XXI (Alberto Caeiro)
O guardador de rebanhos - XXVIII (Alberto Caeiro)
O Tejo é mais belo ...
Não sei se é sonho se é realidade
Odes - Ricardo Reis
Cruz na porta da tabacaria
Fragmentos do Livro do desassossego - Bernardo Soares
Afinal a melhor maneira de viajar é sentir...
Todas as cartas de amor são...
Se te queres matar ...
Dai-me rosas e lírios...
Sou vil, sou reles como toda a gente...
Não sei se é amor que tens
O que há em mim é sobretudo cansaço
Mar português
Ode marcial - h
Lycanthropy My Love And Not I Is The Egoist
Conselho
Para além da curva da estrada (Alberto Caeiro)
Sopra demais o vento
Poema da Canção sobre a Esperança
Soneto 1 de 35 sonetos (Poesia Inglesa) - em português
Sonnet 1 (from 35 Sonnets)
O amor é uma companhia
Quando vier a Primavera (Alberto Caeiro)

À Musa - Guilherme de Azevedo

À luz das noites serenas
A capela de açucenas
Te envolve em lúcido véu!
Ao meigo clarão da lua
És a imagem que flutua
No puro ambiente do céu!

E os ternos suspiros soltos,
E os teus cabelos revoltos
Ao sabor da viração,
Perpassam brandos na mente
Como as brisas do poente
Na cratera do vulcão!

Ó santa imagem querida,
Como és bela adormecida!
Que mistério em teu palor!
Que doçura no teu canto,
E que perfume tão santo
Nas tuas cismas d'amor!

Deixa cair uma rosa
Da tua fronte mimosa,
Da vida no turvo mar!
Descerra-me o paraíso
Que no teu fugaz sorriso
Nos faz viver e sonhar!

Guilherme Avelino de Azevedo Chaves nasceu em Santarém a 30 de Novembro de 1840 e morreu em Paris a 6 de Abril de 1882.

Do mesmo autor, neste blog, ler:
Nome Muito Próprio
Em Nome do Silêncio

On this day in History - Nov. 30

2010-11-29

Recordar é preciso - Conceição Evaristo


O mar vagueia onduloso sob os meus pensamentos.
A memória bravia lança o leme:
Recordar é preciso.
O movimento de vaivém nas águas-lembranças
dos meus marejados olhos transborda-me a vida,
salgando-me o rosto e o gosto. Sou eternamente náufraga.
Mas os fundos oceanos não me amedrontam nem me imobilizam.
Uma paixão profunda é a bóia que me emerge.
Sei que o mistério subsiste além das águas.

Conceição Evaristo (nasceu em Belo Horizonte, em 29 novembro de 1946).

On this day in History - Nov. 29