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2013-08-12

Lembrança - Miguel Torga

Lisboa, Cadeia do Aljube, 6 de Dezembro de 1939

Ponho um ramo de flores
na lembrança perfeita dos teus braços;
cheiro depois as flores
e converso contigo
sobre a nuvem que pesa no teu rosto;
dizes sinceramente
que é um desgosto.

Depois,
não sei porquê nem porque não,
essa recordação desfaz-se em fumo;
muito ao de leve foge a tua mão,
e a melodia já mudou de rumo.

Coisa esquisita é esta da lembrança!
Na maior noite
na maior solidão,
vem a tua presença verdadeira,
e eu vejo no teu rosto o teu desgosto,
e um ramo de flores, que não existe, cheira!


in 'Diário I', 1941
Extraído de POESIA COMPLETA - MIguel Torga, 1ª Edição, Publicações Dom Quixote, pág. 116-117

Adolfo Correia da Rocha que usou o pseudónimo de Miguel Torga, nasceu em São Martinho de Anta, Sabrosa, Trás-os-Montes, a 12 de Agosto de 1907; morreu em Coimbra a 17 de Janeiro de 1995.

Ler do mesmo autor, neste blog: Mãe; Preservação; Súplica; Adeus; Depoimento; Procura; Ficam as Sombras; Sei um ninho; Queixa; Hora de amor; Mea culpa; Anátema; Livro de Horas; Encontro; Quase um poema de amor; Perfil; Exorcismo; Bucólica; Arquivo; Rogo; Glória; Poema melancólico não sei a que Mulher

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