Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam gaturamos de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos do exército são monistas, cubistas,
os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente não pode dormir
com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.
Eu morro sufocado
em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia.
Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade
e ouvir um sabiá com certidão de idade!
Murilo Monteiro Mendes (n. em 13 de Maio de 1901 em Juíz de Fora, Minas Gerais — m. em Lisboa a 13 de agosto de 1975)
Ler do mesmo autor, neste blog:
A Tentação
Jandira
Metafísica da Moda Feminina
Choro do poeta actual
Reflexão n°.1
Nota do webmaster: Toda a canção do exílio é assim: a nossta terra é a melhor apesar de todos os defeitos que tenha. Ao ler este poema é impossível não lembrar o poema com o mesmo título «Canção do exílio» de Casimiro de Abreu (ler aqui) ou até de Alberto Caeiro o extraordinário poema «O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia, / Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia /Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia"...
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