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2012-02-19

A UM TI QUE EU INVENTEI - António Gedeão

Pensar em ti é coisa delicada.
É um diluir de tinta espessa e farta
e o passá-la em finíssima aguada
com um pincel de marta.
Um pesar grãos de nada em mínima balança,
um armar de arames cauteloso e atento,
um proteger a chama contra o vento,
pentear cabelinhos de criança.
Um desembaraçar de linhas de costura,
um correr sobre lã que ninguém saiba e oiça,
um planar de gaivota como um lábio a sorrir.
Penso em ti com tamanha ternura
como se fosses vidro ou película de loiça
que apenas com o pensar te pudesses partir.

 in Obra Completa de António Gedeão, Relógio D´Água Editores


António Gedeão (pseudónimo de Rómulo Vasco da Gama de Carvalho, n. em Lisboa a 24 Nov. 1906; m. 19 Fev. 1997)

Ler do mesmo autor:
Poema da Eterna Presença
Impressão Digital
Poema do Amor
Poema das Coisas Belas
Poema das Coisas
Poema do Gato
Tempo de Poesia
Tudo é foi
Lição sobre a água
Poema da auto-estrada
Rosa branca ao peito
Pedra filosofal
Lágrima de preta
Minha Aldeia

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