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2010-08-17

17 de Agosto um dia repleto de efemérides poéticas

Hoje é um dia especialmente dedicado aos poetas. E porquê?

Luiz Nicolau Fagundes Varella nasceu em Rio Claro, Rio de Janeiro, em 17 de agosto de 1841 e faleceu em Niterói em 18 de fevereiro de 1875. Poeta que, «tanto celebra a natureza e temas indianistas como revela preocupações sociais. Era antimonárquico, abolicionista e partidário de uma democracia igualitária. Para o fim, virou místico». Dele é o Soneto cuja primeira quadra recordamos:

Eu passava na vida errante e vago,
como o nauta perdido em noite escura,
mas tu te ergueste, peregrina e pura
como o cisne inspirado em manso lago.

António Botto nasceu há 113 anos, precisamente no dia 17 de Agosto de 1897, no concelho de Abrantes. Dele escreveu Fernando Pessoa «... é o único português, dos que conhecidamente escrevem, a quem a designação de esteta se pode aplicar sem dissonância. Com um perfeito instinto ele segue o ideal a que se tem chamado estético, e que é uma das formas, se bem que a ínfima, do ideal helénico. Segue-o, porém, a par de com o instinto, com uma perfeita inteligência, porque os ideais gregos, como são intelectuais, não podem ser seguidos inconscientemente. A obra de António Botto, no que realmente típica, resume-se, por ora, no seu último livro, «Canções». Que essa obra se distingue com facilidade da obra de qualquer outro poeta, português ou estrangeiro - todos, que possam ver, o podem ver.»

Envolve-me amorosamente
Na cadeia de teus braços
Como naquela tardinha...
Não tardes, amor ausente;
Tem pena da minha mágoa,
Vida minha!...

ou

Quanto, quanto me queres?
- perguntaste
Numa voz de lamento diluída;
E quando nos meus olhos demoraste
A luz dos teus senti a luz da vida
.....
Beijámo-nos então, a latejar
No infinito e pálido vaivém
Dos corpos que se entregam sem pensar...


ainda de Não Peças Mais Canções,
Se passares pelo adro
No dia do meu enterro,
Dize à terra que não coma
Os anéis do meu cabelo.


Eugénio de Castro morreu em Coimbra há 66 anos, ou seja em 1944, também em 17 de Agosto.
Que dizer de:

Tua frieza aumenta o meu desejo
Fecho os olhos para te esquecer
e, quanto mais procuro não te ver,
quanto mais fecho os olhos, mais te vejo.


Do lado de lá do Atlântico mas também expressando os sentimentos (também o amor, é claro!) nas mesmas palavras da linguagem que conhecemos sem precisar de ir à escola de línguas, Carlos Drummond de Andrade morreu, no Rio de Janeiro, faz hoje 17 de Agosto, 23 anos:

Quero que todos os dias do ano
todos os dias da vida
de meia em meia hora
de 5 em 5 minutos
me digas: Eu te amo.

Ouvindo-te dizer: Eu te amo,
creio, no momento, que sou amado.
No momento anterior
e no seguinte,
como sabê-lo?

Quero que me repitas até a exaustão
que me amas que me amas que me amas.
Do contrário evapora-se a amação
pois ao não dizer: Eu te amo,
desmentes
apagas
teu amor por mim.

Exijo de ti o perene comunicado.
Não exijo senão isto,
isto sempre, isto cada vez mais.


mas também ciente dos momentos em que os Ombros Suportam o Mundo
Os ombros suportam o mundo
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.


«E como nem sempre aos poetas apetecem as estrelas» António Pedro morreu em 17 de Agosto de 1966 no Moledo do Minho. Nascido em Cabo Verde, admito que menos conhecido do que os anteriores, mas também poeta para além de artista... Fica aqui um extracto do seu poema das formigas:

Que é do ciúme e das angústias?
Que é do amor e das palavras?
Que é das carícias e dos dentes?
Que é das renúncias e dos crimes?
Que é das tentações
Das promessas
Dos desejos
Dos apetites
Das fúrias?
Que é de todas as músicas?

O sol inútil cobre um mar negrejante onde os reflexos são como os olhos das moscas
E um silêncio tremendo finge de paz no mundo
Uma paz de silêncio com formigas

Formigas
Formigas
Formigas
Formigas

Domingos Monteiro Pereira Júnior, poeta transmontano (nasceu em Barqueiros, a 6 de Novembro de 1903), faleceu há 30 anos. Deixamos hoje um soneto de onde se extrai:

Pousa a tua cabeça no meu peito
Nas minhas mãos as tuas mãos inquietas
Vamos os dois caçar as borboletas
As quimeras dum sonho insatisfeito.


De autores de outras línguas destacamos Edward James Hughes, mais conhecido como Ted Hughes nascido há 80 anos no West Yorkshire (m. 28 de Outubro de 1998). Poeta e escritor de livros infantis britânico é comummente considerado pela crítica como um dos melhores poetas de sua geração.

Hertha Müller, a escritora alemã de origem romena, a quem foi atribuído o Prémio Nobel da Literatura em 2009, mais conhecida como novelista, mas também poeta, tem também a sua vida ligada a este dia: nasceu em 17 de agosto de 1953 em Nitchidorf, Timis County.

Enfim... Acho que os poucos versos acima já deram para aguçar o apetite. Agora é só procurar e ler a poesia de Fagundes Varella, António Botto, Eugénio de Castro, Carlos Drummond de Andrade, António Pedro, Ted Hughes, Hertha Müller e ... dos outros...

Os autores de língua portuguesa aqui citados já têm vários poemas divulgados no Nothingandall e hoje adicionamos:
e do autor inglês Ted Hughes, pela primeira vez neste blog referenciado, Teologia / Theology.

Há ainda a passagem dos 101 anos sobre o nascimento de Óscar Ribas, escritor angolano, autor "profundamente preocupado com os temas da literatura oral, filologia, religião tradicional e filosofia dos povos de língua kimbundu" e muito mais, naturalmente...

Uma boa semana a todos os leitores, com sorrisos, flores e ... poesia!

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