Para dizer quem foi a minha mãe, não acho
Uma palavra própria, um pensamento bom
Diógenes — busco-o em vão; falta-me a luz de um facho
— Se acho som, falta a luz; se acho luz, falta o som!
Teu nome — ó minha mãe — tem o sabor de um cacho
De uvas diáfanas, cor de ouro e pérola, com
Polpa de beijos de anjo... ouvi-lo é ouvir um sacho
Merencóreo, a rezar, no seu eterno tom. ..
Minha mãe! Minha mãe! Eu não fui qual devera.
Morreste e eu não bebi nos teus lábios de cera
A doçura que as mães, ainda mortas, contêm...
Ao pé de nossas mães — todos nós somos crentes...
Um filho que tem mãe — tem todos os parentes...
— E eu não tenho por mim, ó minha mãe, ninguém!
Nota biobibliográfica:
HERMES Floro Bartolomeu Martins de Araújo FONTES nasceu em Buquim (SE) a 28 de Agosto de 1888 e suicidou-se no Rio de Janeiro a 25 de Dezembro de 1930. De origem humilde, revelou desde menino tal inteligência que o governador do estado o levou para o Rio, onde se bacharelou em Direito em 1911, embora nunca tenha exercido a advocacia, dedicando-se antes a uma intensa actividade jornalística e política. Como poeta, entre parnasianismo e simbolismo, foi um autor ecléctico. A revolução de 1830 demitiu-o de todos os cargos. Sentindo-se perseguido politicamente, abandonado sentimentalmente (divorciara-se há pouco) e cada vez mais isolado pela surdez, desfechou um tiro no peito no dia de Natal.
(nota biobliográfica extraída de «A Circulatura do Quadrado - Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria É a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004».
Ler do mesmo autor:
Suave Amargor
Anoitecer na Praia
A Cigarra
Pouco acima Daquela Alvíssima Coluna
Jogos de Sombras;
Solenemente;
Diário de Um Sonho(IV)
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