As flores que nossa alma descuidada
Colhe na mocidade com mão casta,
São belas, sim: basta aspirá-las, basta
Uma vez, fica a gente enfeitiçada.
Nascem num prado ou riba sossegada,
Sob um céu puro e luz serena e vasta:
Têm fragância subtil, mas nunca exausta,
Falam d'Amor e Bem à alma enlevada...
Mas as flores nascidas sobre o asfalto
Dessas ruas, no pó e entre o bulício,
Sem ar, sem luz, sem um sorrir do alto,
Que têm elas, que assim nos endoidecem?
Têm o que mais as almas apetecem ...
Têm o aroma irritante e acre do Vício!
Extraído de Poemas Portugueses Antologia da Poesia Portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI, Porto Editora
Antero Tarquínio de Quental (n. Ponta Delgada, S.Miguel, Açores a 18 Abr. 1842; m. em Ponta Delgada a 11 Set. 1891)
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