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2010-06-20

Súplica Ao Vento - António Feijó

A Luiz de Magalhães

Grito ao Vento que passa a galopar na treva:
— «Escuta a minha dor!»--rouco, de braços hirtos,
A ver se ele ouve e ao longe esta Saudade leva!

«Meus queixumes, ó Vento, hão de em ânsia ouvir-tos
Esses campos que amei, vinhas, rios suaves,
Pomares, laranjais, bosques de louro e mirtos,

Onde, inverno e verão, nunca emudecem aves,
Onde nunca se extingue o murmurar das fontes,
Todo o ano a correr entre rosais e agaves...

Vento largo, que vens de ignotos horizontes!
No teu rugido absorve o meu grito pungente!
Vai repeti-lo ao mar e aos pinheirais dos montes,

Para tornar mais triste o seu gemer plangente,
Mais expressivo e humano o seu lamento amargo,
Como um eco, a expirar, desta noite inclemente!

Leva contigo, ó Vento, este gemido ao largo,
A ver se nele alguém a minha voz conhece,
Nessas terras de luz, sem hiemal letargo,

Onde o Estio a cantar longos meses se esquece,
E onde o Sol não é só lâmpada que ilumina,
Mas o Ágni criador que tudo anima e aquece!

Debalde, sobre mim, na sua graça divina,
Almas puras, abrindo a plumagem das asas,
Com o ardor que nenhuma angústia contamina,

Espalham no meu lar como um calor de brasas...
— Para fundir de todo esta geada tão densa,
Só tu, meu claro Sol, que até de inverno abrasas!

Vento frio, que vais da minha noite imensa,
Tenebroso e a rugir! - leva a minha Saudade,
Como uma estrela a arder, na tua asa suspensa!

Quando essa luz passar, com que mágoa não há-de
Reflecti-la o meu rio, e acariciá-la, vendo
Que vai dos olhos meus a ténue claridade!

Mas então, Rio amado, as tuas águas descendo
Nessa luz reflectida, a tremer como um luar,
Todo o passado irei nas tuas margens revendo,

E o coração talvez se esqueça de chorar,
Como manta que a voz de Loreley enleva,
E para a morte vai nesse enlevo a cantar...

Vento surdo, que vais a galopar na treva!
Pára um momento! Escuta a minha voz clamante
Vê como sofro, e ao longe esta Saudade leva!»

Mas o Vento não ouve o meu grito alarmante!
Ai de mim, que sou eu?! pobre louco exilado,
De toda a parte vendo o meu país distante,
Como se lá tivesse os meus olhos deixado!

(in Poesias Completas, António Feijó, Prefácio de J. Cândido Martins, Caixotim Edições)

António Joaquim de Castro Feijó, nasceu em Ponte de Lima a 1 de Junho de 1859 e faleceu em Upsala na Suécia a 20 Junho 1917).

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