Já não são horas, meu Amor…
A hora
passou
em que era grato a gente amar.
É um querer de Irmão este de agora.
Nem a Tarde
é já o cravo rubro de inda há pouco:
é um murmúrio quase… um lírio inexistente
dulcificando as coisas, perfumando-as
de carinhos…
Não é a hora, Amor.
Agora
deixa sorrir em nós a peregrina
ternura da Paisagem.
Não desprendas as mãos
das minhas…
Abandona-as, mas castas como berços…
E beija-me na testa…
Quando a Noite
mansa vier vindo,
Amor, beija de manso a minha testa…
De manso, meu Amor…
Como se o lírio da Tarde se fechasse…
Extraído de Cem Poemas Portugueses do Adeus e da Saudade, selecção, organização e introdução de José Fanha e José Jorge Letria, Terramar
Sebastião Artur Cardoso da Gama (n. em Vila Nogueira de Azeitão, Setúbal, a 10 de Abril de 1924; m. em Lisboa a 7 de Fevereiro de 1952)
Do mesmo autor ler os belíssimos poemas:
Nasci para ser ignorante
Pequeno Poema
O Sonho
Madrigal
Poema da Minha Esperança
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