Perdi-me tanto, que ja não me encontro,
Agulha humana que se foi sumindo
No palheiro do tempo,
Hoje, amanhã, depois
-Aqui a meninince,
Ali a mocidade-,
Não houve sombra que me não cobrisse,
Nem sol que me trouxesse a claridade.
Mas não posso, nem quero conformar-me.
E como um cão fiel que escava a sepultura
Do dono,
Assim, desesperado,
Eu tento
Desenterrar
A imagem do que sou, de que não sei que momento
Ou que lugar...
Coimbra, 6 de Novembro de 1956
in Miguel Torga, Poesia Completa, Publicações Dom Quixote
Miguel Torga (Adolfo Correia da Rocha) (n. em São Martinho de Anta, Sabrosa, Trás-os-Montes, a 12 de Agosto de 1907; m. em Coimbra a 17 de Janeiro de 1995.
Ler do mesmo autor, neste blog: Ficam as Sombras; Sei um ninho; Queixa; Hora de amor; Mea culpa; Anátema; Livro de Horas; Quase um poema de amor; Perfil; Exorcismo; Bucólica; Arquivo; Rogo.
Amor, morte, poesia, política, actualidade, futebol, efemérides, solidão, paz, humor, musica...tudo e nada; Here we talk about life, love, death,
On this day in History, poetry, politics, football (soccer), solitude, peace, humour, music ... nothing and all.
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