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2008-11-24

Poema das Flores - António Gedeão (que nasceu faz hoje 102 anos)

Canteiro de Flores de Ana Maria Zientarski

Se com flores se fizeram revoluções
que linda revolução daria este canteiro!

Quando o clarim do sol toca a matinas
ei-las que emergem do nocturno sono
e as brandas, tenras hastes se perfilam.
Estão fardadas de verde clorofila,
botões vermelhos, faixas amarelas,
penachos brancos que se balanceiam
em mesuras que a aragem determina.
É do regulamento ser viçoso
quando a seiva crepita nas nervuras
e frenética ascende aos altos vértices.

São flores e, como flores, abrem corolas
na memória dos homens.

Recorda o homem que no berço adormecia,
epiderme de flor num sorriso de flor,
e que entre flores correu quando era infante,
ébrio de cheiros,
abrindo os olhos grandes como flores.
Depois, a flor que ela prendeu entre os cabelos,
rede de borboletas, armadilha de unguentos,
o amor à flor dos lábios,
o amor dos lábios desdobrado em flor,
a flor na emboscada, comprometida e ingénua,
colaborante e alheia,
a flor no seu canteiro à espera que a exaltem,
que em respeito a violem
e em sagrado a venerem.

Flores estupefacientes, droga dos olhos, vício dos sentidos.

Ai flores, ai flores das verdes hastes!
A César o que é de César. Às flores o que é das flores.

in Poesia Completa, António Gedeão, Edições João Sá da Costa, Lisboa

António Gedeão (pseudónimo de Rómulo Vasco da Gama de Carvalho n. 24 Nov 1906; m. 19 Fev 1997)

Ler do mesmo autor:
Poema das Coisas
A um ti que eu inventei
Tempo de Poesia
Tudo é foi
Lição sobre a água
Poema da auto-estrada
Rosa branca ao peito
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