Pensar em ti é coisa delicada.
É um diluir de tinta espessa e farta
e o passá-lo em finíssima aguada
com um pincel de marta.
Um pesar de grãos de nada em mínima balança,
um armar de arames cauteloso e atento,
um proteger a chama contra o vento,
pentear cabelinhos de criança.
Um desembaraçar de linhas de costura,
um correr sobre lã que ninguém saiba e oiça,
um planar de gaivota como um lábio a sorrir.
Penso em ti com tamanha ternura
como se fosses vidro ou película de loiça
que apenas com o pensar te pudesses partir.
António Gedeão, Máquina de Fogo, 1961
in Poesia Completa , António Gedeão,
Edições João Sá da Costa, Lda.
Ler do mesmo autor:
Tudo é foi
Poema da auto-estrada
Rosa branca ao peito
Pedra filosofal
Lágrima de preta
e aqui a sua biografia
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