Põe uma pedra
uma pedra sobre a infância
Para que de vez se cale essa respiração
contida suspensa no escuro
Põe, digo-te, uma pedra de silêncio sobre
essa infância essa fala ininterrupta essa
falagem que falha e promete e inventa
os sonhos e as promessas e o riso sem porquê
Para que de vez se interrompa a esperança esse
mal que não desiste. Escreve, faz o que o ditado dita:
Enterra no silêncio da pedra essa intolerável coisa
que é a infância, as vozes da noite no poço.
Apaga a infância isso que falta sempre à chamada
e para sempre trocou já os desejos e os medos.
in Migrações do Fogo, Editorial Caminho, Lisboa, 2004.
Manuel Gusmão nasceu em Évora a 11 de dezembro de 1945
Ler do mesmo autor, no Nothingandall:
O rio divide-te
Já ali não estavas
As Claras Imagens
A Terceira Mão
A Velocidade da Luz (excerto)
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