Disputavam fortemente
Nas frescas margens do Nilo,
Sobre o manejo do engano,
A Sereia e o Crocodilo
Jactava-se este vil monstro
Matar os homens, chorando;
Vangloriava-se a Sereia
Matando os homens, cantando.
"Eu (dizia o Crocodilo)
Afecto um chorar mavioso;
Depois despedaço - rindo -
A quem me acode piedoso"
"Pois eu não; com mais destreza
Sonora me faço ouvir:
(Disse a Sereia) - e nas ondas
Faço os nautas submergir"
Um macaco, que enroscado
Estava numa palmeira,
Ouviu atento a conversa
Da jactância carniceira:
Mas - não podendo sofrer
A tal questão depravada -
Deu, do ramo onde pousava,
Uma tremenda apupada.
Eis nisto as feras - alçando
os olhos e vendo o Môno
Fazendo várias momices
Mui repimpado eu seu trono -
Lhe disseram: "Já que ouviste
Do nosso engano os ardis,
Sê desta nossa contenda
Hoje, ó Macaco, o juiz.
Nós nos louvamos em ti,
Como as Deusas se louvarão
Em Paris, quando do pômo
De oiro a posse disputarão.
Decide prudente, e recto
Qual de nós é mais tirano;
Qual de nós deve empunhar
O ceptro do falso engano"
O Macaco, assaz manhoso,
E assaz no mundo experiente
Dos monstros da Natureza
Sentenciou de repente:
"Tenho ouvido a vossa teima
Podeis casar sem dispensa:
Ambos reunis o engano
Da mulher - eis a sentença!"
A decisão do Macaco
Nesta fábula nos diz
Que a mulher reune em si
Dos dois monstros os ardis.
A mulher engana - e mata -
Quando se põe a chorar
A mulher engana - e mata -
Quando se põe a cantar.
Homens, fazei-vos Macacos;
Senão - ficareis perdidos:
Ou a mulher cante ou chore,
Tapai os vossos ouvidos.
Nas frescas margens do Nilo,
Sobre o manejo do engano,
A Sereia e o Crocodilo
Jactava-se este vil monstro
Matar os homens, chorando;
Vangloriava-se a Sereia
Matando os homens, cantando.
"Eu (dizia o Crocodilo)
Afecto um chorar mavioso;
Depois despedaço - rindo -
A quem me acode piedoso"
"Pois eu não; com mais destreza
Sonora me faço ouvir:
(Disse a Sereia) - e nas ondas
Faço os nautas submergir"
Um macaco, que enroscado
Estava numa palmeira,
Ouviu atento a conversa
Da jactância carniceira:
Mas - não podendo sofrer
A tal questão depravada -
Deu, do ramo onde pousava,
Uma tremenda apupada.
Eis nisto as feras - alçando
os olhos e vendo o Môno
Fazendo várias momices
Mui repimpado eu seu trono -
Lhe disseram: "Já que ouviste
Do nosso engano os ardis,
Sê desta nossa contenda
Hoje, ó Macaco, o juiz.
Nós nos louvamos em ti,
Como as Deusas se louvarão
Em Paris, quando do pômo
De oiro a posse disputarão.
Decide prudente, e recto
Qual de nós é mais tirano;
Qual de nós deve empunhar
O ceptro do falso engano"
O Macaco, assaz manhoso,
E assaz no mundo experiente
Dos monstros da Natureza
Sentenciou de repente:
"Tenho ouvido a vossa teima
Podeis casar sem dispensa:
Ambos reunis o engano
Da mulher - eis a sentença!"
A decisão do Macaco
Nesta fábula nos diz
Que a mulher reune em si
Dos dois monstros os ardis.
A mulher engana - e mata -
Quando se põe a chorar
A mulher engana - e mata -
Quando se põe a cantar.
Homens, fazei-vos Macacos;
Senão - ficareis perdidos:
Ou a mulher cante ou chore,
Tapai os vossos ouvidos.
in O moribundo Cysne do Vouga, Collecção D'algumas peças mais importantes extrahida das Obras poéticas do Snr. Francisco Joaquim Bingre nos últimos momentos da sua vida; Porto, Typographia Commercial, 1850
Francisco Joaquim Bingre nasceu em S. Tomé de Canelas, Estarreja no dia 9 de julho de 1763 e morreu em Mira a 26 de março de 1856).
Ler do mesmo autor, neste blog:
Soneto de Despedida
Paciência, um Sofrimento Voluntário
Retrospectiva
Meus Versos
A Camões
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