Deito-me na rede atada
Aos pináculos do fuso horário.
Tivessem os meus dias um dono
ao alcance da voz
que por mim cora; sem pejo
o adularia.
Este sulco em minha mão
que enruga a testa das ciganas
não vai mais longe o seu cavalo cego.
Que ilusória beleza
raia
um verso nado
e, dúplice, na ausência de ambos,
a cama estática.
Como dos deuses, descreio
da inspiração;
entre mim e a voz,
há um convívio silente.
Quando da avenida,
o alto repuxo de som
inunda a flat,
volvo eu à secura
íntima da água
Há poetas com musa. Muitos.
Eu, neste jardim do Éden,
a cargo do município,
onde um velho destece a sua vida
e, baixando o olhar,
ainda lhe afaga a trama,
quando a poesia se afoita,
amuo
na agrura de, ao acordar,
tê-la sonhado.
in A Noite Dividida/ o Limite Diáfano, Lisboa, Assírio e Alvim, 1996.
Dinis Albano Carneiro Gonçalves, cujo pseudónimo é Sebastião Alba, nasceu em Braga a 11 de março de 1940; faleceu em Braga a 14 de outubro de 2000.
Pai; quando falava no futuro
Envelheces, Rapaz
Sem comentários:
Enviar um comentário