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2014-07-11

XIX - Os portugueses - Afonso Celso

XIX
Os portugueses


A história não regista notícia de um povo que, com menos recursos, mais fizesse do que o português. Larga é a sua contribuição para o progresso humano, que nunca empeceu. Subjugou o mar tenebroso, dilatou o perímetro aproveitável do planeta; e, sendo um dos mais diminutos e menos povoados reinos da Europa, formou esse colosso — o Brasil. Dá mostras de injustiça e ingratidão o brasileiro que ataca ou deprime Portugal.

Que é que constitui a grandeza de um povo? Seus serviços à humanidade? Portugal os prestou, como nenhuma outra nação, com as suas viagens e descobrimentos.

A sua literatura, a sua arte?

Portugal criou o estilo gótico manoelino; possui Camões, uma das sumidades do pensamento universal.

A sua heroicidade, a sua resignação, o seu esforço?

Uma vez única o solo português sofreu a conquista de hostes estrangeiras, pois o domínio de Espanha durante 60 anos legitimou-o o direito de sucessão. Napoleão, o dominador da Europa inteira, mandou para lá suas mais aguerridas tropas e mais famosos generais. E em Portugal começou o declínio das vitórias napoleónicas. A família real de Bragança não se humilhou — única no velho mundo com a da Inglaterra — ao grande guerreiro, mas, ao contrário, estorvou-lhe os planos, como ele próprio o reconheceu em Santa Helena. O general Junot foi batido e aprisionado em Portugal; Soult e Massena, em toda parte triunfantes, viram-se obrigados a retirar-se diante da indomável bravura e tenacidade lusitanas. Se exércitos franceses invadiram o território português, também uma divisão portuguesa invadiu a França e ocupou cidades francesas sob o comando de Wellington.

Onde quer que os portugueses fixem domicílio, na Ásia, na África, na Oceania, dão belos exemplos de união, patriotismo, amor ao trabalho, filantropia; elevam monumentos à caridade e à instrução. Em parte nenhuma é infecunda a sua passagem.

Desfralda-se altiva, há tantos séculos, a sua bandeira branca e azul! Jamais teve nódoas, a não serem de sangue briosamente vertido. Nunca se abateram os cinco escudos das suas armas. Honra aos desbravadores do nosso país!

in Porque me ufano do meu país
Laemert & C. Livreiros - Editores, 1908

Afonso Celso de Assis Figueiredo Jr. (n. em Ouro Preto, Minas Gerais, a 31 março 1860, m. Rio de Janeiro a 11 julho 1938)

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