Passo às vezes na cama um dia inteiro
De papo para o ar, como um madraço...
Fumando qual filósofo ou palhaço,
-Sem mulher...sem cuidadoss....sem dinheiro!
É de manhã então que me é fagueiro
Ouvir trinar no cristalino espaço
Um pregão mais macio que um regaço,
Que se esvai a carpir...como um boeiro...
De manhã é que passa a leiteirinha,
Com seu pregão chilrado de andorinha,
Passam varinas de gargantas sãs...
E ao escutar tais cantantes semifusas,
Eu creio que oiço ao longe as frescas musas,
- A vender uvas e a pregoar maçãs.
António Gomes Leal (n. em Lisboa a 6 de junho de 1848; m. em 29 de janeiro de 1921)
Ler do mesmo autor, neste blog:
À Janela do Ocidente
A Lady
Romantismo
Som e Cor
O Visionário ou Som e Cor III
Cantiga de Campo
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