CAMÕES.
Por que me hei de importar? Se a Razão pede
Sacrifícios, com lágrimas os paga.
Se tenho no meu peito aberta chaga,
Ela nenhum alívio me concede.
"Pára, infeliz! Alguém teus passos mede...
Se em gozos a tua alma se embriaga,
Todos os teus sentidos prende e esmaga,
Que sentir e gozar o mundo impede!"
"Se tens um coração e nele oculta
Uma paixão qualquer, ou triste ou grata,
Fere-o, e no peito toda a dor sepulta."
Isto a Razão nos diz contra a Paixão.
Mas se esta nos dá vida, e aquela mata
Que vença o Amor, e esmague a Razão.
25 de dezembro de 1884.
(Lírica, 1887.)
Francisco Filinto de Almeida (n. no Porto em 4 Dez. 1857; m. no Rio de Janeiro, RJ, em 28 Jan. 1945).
Ler do mesmo autor:
Chama da Vida
Misteriosa
Funesta
Último Apelo
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