Nem todo o corpo é carne… Não, nem todo.
Que dizer do pescoço, às vezes mármore,
às vezes linho, lago, tronco de árvore,
nuvem, ou ave, ao tacto sempre pouco…?
E o ventre, inconscientemente como o lodo?…
E o morno gradeamento dos teus braços?
Não, meu amor… Nem todo o corpo é carne:
é também água, terra, vento, fogo…
É sobretudo sombra à despedida;
onda de pedra em cada reencontro;
no parque da memória o fugidio
vulto da Primavera em pleno Outono…
Nem só de carne é feito este presídio,
pois no teu corpo existe o mundo todo!
Extraído de Poemas de Amor, Antologia de Poesia Portuguesa, Organização e Prefácio de Inês Pedrosa, Publicações Dom Quixote
David de Jesus Mourão-Ferreira (n. em Lisboa a 24 Fev. 1927; m. Lisboa a 16 Jun 1996)
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E Por Vezes
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Nocturno
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