Id arbitror
Adprime in vila esse utile, ne quid nimis.
Terent.
Adprime in vila esse utile, ne quid nimis.
Terent.
Se entre os diversos dons da naturezaExtraído de Poemas Portugueses, Antologia da Poesia Portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI, Porto Editora
Me fora dada escolha,
Não me atraíra o fasto das riquezas,
Nem a pompa da glória.
Brilhante engenho, divinais talentos,
Quanto folgara tê-los!
Mas ai! tantos no mundo os possuíram,
E foram desgraçados!
D'Aquiles o cantor de terra em terra
Foragido esmolava;
O primeiro brasão da nossa glória,
Vate de Inês divino
Entre as garras da esquálida penúria
Desamparado expira;
Ao sublime cantor da maga Armida,
De Hermínia, de Clorinda
Sobre o cume do erguido Capitólio
Já o esperava o louro,
Do cisne de Vauclusa a sombra arguta
Já revoava em torno,
Quer ser-lhe guia, dirigir-lhe os passos
Na difícil vereda...
Eis após longa teia de infortúnios
A morte... E a morte é tudo!
E a ti, britano bardo, não bastavam
As trevas e a cegueira?
Tu que da miseranda humanidade
Na harpa de Sião choraste
Primeira perda, tudo enfim perdeste:
Tudo!... Restou-te a filha,
Sobejou-te a razão: que importa ao sábio
O resto do universo?
Empunhando a cicuta é grande ainda
O modelo dos sábios,
Consolando os amigos que o pranteiam
É venturoso ainda.
Guardai os vossos dons, glória e fortuna,
Vossas mercês levai-as;
Deixai-me um coração puro e sensível,
Um peito generoso,
Dai-me a ventura num fiel amigo,
Na razão dai-me um guia.
João Baptista da Silva Leitão de Almeida Garrett (n. no Porto a 4 de Fev. 1799; m. em Lisboa 9 Dez. 1854)
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