A uma Ovelha
Entre as meigas ovelhas pobrezinhas
que eu guardo pelos montes, uma existe
que anda longe balindo, sempre triste,
e vive só das ervas mais sequinhas.
Que pressentes na alma? Que adivinhas?
Etérea voz de dor acaso ouviste?
Que foi que tu, nas nuvens, descobriste?
Não és irmã das outras ovelhinhas.
Sobes às altas fragas escarpadas,
e contemplas o sol que desfalece
e as primeiras estrelas acordadas...
E assim ficas a olhar o céu profundo:
faminta dessa relva que enverdece
os outeiros e os vales do outro mundo.
Joaquim Pereira TEIXEIRA DE Vasconcelos (PASCOAES) nasceu em Amarante a 2 de Novembro de 1877 e morreu de cancro pulmonar em São João de Gatão a 14 de Dezembro de 1952. Matriculou-se em 1896 na Faculdade de Direito de Coimbra, cujo bacharelato concluiu em 1901 e onde acamaradou com Augusto Gil, Fausto Guedes Teixeira, Afonso Lopes Vieira e João Lúcio. Exerceu durante dez anos advocacia em Amarante e no Porto, onde conviveu com Raul Brandão, António Patrício, Leonardo Coimbra e Jaime Cortesão. Estreara-se nas letras, em 1895, com «Embriões», mas a sua obra poética só é válida a partir de 1898 com «Sempre». De 1912 a 1916, dirige a revista «Águia», órgão do movimento da Renascença Portuguesa, que ajudara a fundar e onde prega a filosofia do Saudosismo: a «saudade» era um misto de lembrança e de aspiração, pelo que tanto se podem sentir saudades do passado como do futuro. «Teólogo agnóstico», escreveu que Deus é filho do homem. Poeta cósmico (do Tâmega e do Marão), sustentava que «a essência das coisas é de natureza poética e não científica... só há sabedoria nos poetas e... a melhor ciência é a dos ignorantes inspirados». Embora vivendo e escrevendo no Séc. XX, a sua poesia é romântica, anterior a António Nobre e Camilo Pessanha, que nasceram uma década mais cedo que Pascoaes. Ele era admirador e discípulo de Guerra Junqueiro. Acabou a escrever biografias delirantes (São Paulo, São Jerónimo, Napoleão, Camilo, Santo Agostinho) e novelas falhadas: «O Empecido» (1950), «Dois Jornalistas» (1951).
Poema extraído de «Os poemas da minha vida - Diogo Freitas do Amaral, Público». Nota biobibliográfica extraída de «A Circulatura do Quadrado - Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004. Ler do mesmo autor:
A Minha Vida
Elegia do Amor
Canção da Névoa
À sombra do Tâmega
O Poeta;
Quem és tu? De onde vens?...
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