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2010-09-15

A Árvore do Mal - Guerra Junqueiro (nos 160 anos do nascimento)

imagem daqui

Por baixo do azul sereno, entre a fragrância
Dos mirtos, dos rosais,
Viviam numa doce e numa eterna infância
Nossos primeiros pais.


Seus corpos juvenis, mais alvos do que a Lua,
Mais puros do que os diamantes,
Conservavam ainda a virgindade nua
Das coisas ignorantes.


Pôs Deus nesse jardim com sua mão astuta
Ao lado da inocência
A Árvore do Mal que produzia a fruta
Venenosa da ciência.


E, apesar de conter venenos homicidas
E o germe do pecado,
Era Deus quem comia à noite, às escondidas,
Esse fruto vedado.


Por isso Jeová tinha ciência infinda,
Tinha um poder secreto,
E Adão que não provara os frutos era ainda
Um anjo analfabeto.


Eva colheu um dia o belo fruto impuro,
O fruto da Razão.
Nesse instante sublime Eva tinha o Futuro
Na palma da sua mão!


O homem, abandonado a submissão covarde,
Viu o fruto e comeu.
Esse fruto é a Luz que a Júpiter mais tarde
Roubará Prometeu.


E ao ver igual a si a estátua que criara,
O homem réprobo e nu,
Jeová exclamou: «Maldita seja a seara
Cuja semente és tu!»


Veio depois a Igreja e repetiu aos crentes
De toda a humanidade:
«Maldito seja sempre o que enterrar os dentes
Nos frutos da verdade!»


A Igreja permitia esse vedado pomo
Somente aos sacerdotes.
Da árvore do mal fugia o mundo, como
Os lobos dos archotes.


Se o sábio que buscava o oiro nas retortas
Ia como um ladrão
Roubar timidamente, à noite, às horas mortas,
Algum fruto do chão,


Tiravam-lhe da boca esse fruto daninho
Duma maneira suave:
Atando-lhe à garganta uma corda de linho
Suspensa duma trave.


Um dia um visionário, alma vertiginosa,
Espírito imortal,
Foi deitar-se, que horror! à sombra temerosa
Da Árvore do Mal.


A Igreja ao ver aquela intrépida heresia
Lança-lhe excomunhões;
Tomba por terra um fruto... e Newton descobria
A lei das atracções!


Sacudi, sacudi a árvore maldita,
Que os astros tombarão,
Como se sacudisse a abóbada infinita
Deus com a própria mão!


E quando o mundo inteiro enfim houver comido
Até à saciedade
O fruto que lhe estava há tanto proibido,
O fruto da Verdade,


Homens, dizei então a Jeová: -- «Tirano,
Vai-te embora daqui!
Contruímos de novo o paraíso humano;
Fizémo-lo sem ti.


Expulsaste do Olimpo a humanidade outrora,
Ó déspota feroz;
Pois bem: o Olimpo é nosso, e Jeová, agora
Expulsamos-te nós!»

Guerra Junqueiro (n. Freixo de Espada à Cinta 15 de Setembro de 1850* ; m. Lisboa a 7 de Julho de 1923).

Ler do mesmo autor, neste blog:
Introdução (excerto)
Adoração
Regresso ao Lar
A Moleirinha
Canção Perdida
Memória de minha mãe

1 comentário:

Anónimo disse...

as mulheres sao todas más e os homens uns tolos manipulados só servem de "guarda-costas" das suas queridinhas ou de cornudos proctectores ke memo sendo cornudos ainda lhas acolhem bem idiotas

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