Esta noite vou embebedar os meus navios
Rasgar os meus poemas
e as minhas raras (raríssimas)
Cartas de amor
Esta noite vou ser horrível
Pior do que o costume
Vou desabobadar os céus da minha esperança
Viga por viga, estrela por estrela
Esta noite vou embebedar os meus navios
Vou deixar de falar a imensa gente
Vou encontrar um sábio chinês
Que me recitará poemas muito simples
Insuportáveis de tão belos
Esta noite vou destruir mapas antigos
Abrir certas janelas e quebrar
A possibilidade de alguém mais entrar na minha vida
Esta noite vou pedir perdão aos meus amigos
E escrever uma última carta sem a minima sombra de sentimentalismo
Esta noite vou embebedar os meus navios
Alberto de Lacerda (n. em 20 Sep. 1928 em Moçambique; m. em Londres a 26 Ago 2007)
Ler do mesmo autor, neste blog: Copo de Água; Hino ao Tejo
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