Nestes ermos, ouvindo a voz das fontes,
de humildes alegrias fui pastor;
meus rebanhos guardava com amor,
contemplando os longínquos horizontes...
Árvores maternais, que ergueis as frontes
verde-tristes, num gesto criador,
junto a vós semeei sonhos em flor,
que vestiram de rosas estes montes...
Mas tudo – riso e sonhos – me levaram...
Perdi meu gado, meus jardins secaram,
já neles não há rosas nem alfombras!
Doura a tarde estes ermos de abandono...
E eu passo – folha morta dum Outono,
sombra vaga a errar por entre sombras!
Bernardo Rodrigues de Passos nasceu em São Brás de Alportel (Algarve) a 29 de Outubro de 1876 e morreu cego em Faro a 1 de Junho de 1930. Começou por se dedicar à vida comercial e ao ensino particular mas, propagandista entusiasta da República, veio a ser administrador do concelho de Faro e, depois, secretário da respectiva Câmara Municipal. Bondoso, tímido e modesto, se tinha reduzida cultura e escassa leitura, não lhe faltava poder emotivo, sensibilidade artística, pureza de forma e elevação de pensamento. Como poeta, evoluiu do decadentismo para o neo-romantismo. A sua melhor recolha é de publicação póstuma: «Refúgio» (1936).
Ler do mesmo autor:
Soneto e
Quadras SoltasSoneto e nota biobibliográfica extraídos de «A Circulatura do Quadrado - Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004.
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