Todos nascemos nus
– condição dos vermes,
dos punhais
e da luz.
Os filhos só têm a mais
o terror das diferenças
das mães a vesti-los com os braços
-destinos feios
de mijo a chorar nas rendas
e violinos em trapos.
Todos nascemos nus
-condição dos seios,
das açucenas
e dos sapos.
Mas até os seios das mães
São diferentes.
Uns cheiram a sedas quentas,
Outros, a urina de cães.
Bem. Agora devia sofrer
Cuspir nos espelhos
Dos remorsos.
E esbofetear o céu
Com gritos de mãos de ossos.
Mas não. Sorrio.
Todos nascemos nus
-condição dos mortos
despidos pelo frio.
José Gomes Ferreira (n. no Porto a 9 Jun 1900, m. 8 Fev 1985)
In “Urbano Tavares Rodrigues : os poemas da minha vida” – Público- 2ª. Edição Junho de 2005
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