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2005-11-24

Minha aldeia - António Gedeão

Minha aldeia é todo o mundo.
Todo o mundo me pertence.
Aqui me encontro e confundo
com gente de todo o mundo
que a todo o mundo pertence.

Bate o sol na minha aldeia
com várias inclinações.
Angulo novo, nova ideia;
outros graus, outras razões.
Que os homens da minha aldeia
são centenas de milhões.

Os homens da minha aldeia
divergem por natureza.
O mesmo sonho os separa,
a mesma fria certeza
os afasta e desampara,
rumorejante seara
onde se odeia em beleza.

Os homens da minha aldeia
formigam raivosamente
com os pés colados ao chão.
Nessa prisão permanente
cada qual é seu irmão.
Valência de fora e dentro
ligam tudo ao mesmo centro
numa inquebrável cadeia.
Longas raízes que imergem,
todos os homens convergem
no centro da minha aldeia.

in Poesia Completa de António Gedeão
Edições João Sá da Costa - Lisboa

António Gedeão (Rómulo Vasco da Gama de Carvalho) nasceu a 24 de Novembro de 1906 na lisboeta freguesia da Sé e faleceu em 19 de Fevereiro de 1997.

Do mesmo autor neste blog:
Poema da auto-estrada
Rosa branca ao peito
Pedra filosofal
Lágrima de preta

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