Tento, há muito, fazer um bom soneto,
uma obra-prima, que me deixe ufano:
armar catorze linhas – o esqueleto –
e dar-lhes sangue e nervo e um sopro humano.
Entusiasmou-me esse trabalho insano,
quis polir um quarteto, outro quarteto;
cada quarteto foi-me um desengano,
desengano me foi cada terceto.
Sonhei erguê-lo como um templo grego,
fi-lo e refi-lo, num desassossego,
e, em pouco, dominou-me o desalento…
Arcanos do soneto! É-me defesa
sua revelação e, com tristeza,
contemplo a frustração do meu intento.
CRISTÓVÃO Torres DE CAMARGO nasceu em São Paulo a 29 de agosto de 1902. Formado em Direito pela sua cidade natal, estabeleceu-se como advogado no Rio de Janeiro. Escreveu poesia («Bronze», «Sonetos» e «Poème de la Nuit»), contos, peças teatrais, ensaios e literatura infantil, em português, castelhano ou francês. Foi também jornalista e proferiu conferências em Paris, Roma e capitais sul-americanas. Usou, por vezes, o pseudónimo Fabrício Velho.
Soneto e nota biobibliográfica extraídos de «A Circulatura do Quadrado - Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004.
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