Em menino achei um dia
bem no fundo de um surrão
um frio tubo de argila
e fui feliz desde então;
rude e doce melodia
quando me pus a soprá-lo
jorrou límpida e tranquila
como água por um gargalo.
E mesmo que toda a gente
fique rindo, duvidando
destas estórias que narro,
não me importo: vou contente
toscamente improvisando
na minha frauta de barro.
É o tema recomeçado
na minha vária canção.
II
Jorre a módula toada
com seu churriante humor
que sempre com ar de magia
sai o canto do cantor.
Canto como u’a menina
colhendo amoras no mato
(com medo de estar sozinha)
num tom faceto e gaiato.
Se vires, leitor, o que há de
agreste no que aqui trouxe
com estas canções que colhi,
sentirás minha saudade
provando o gosto agridoce
das amoras que escolhi...
É o tema recomeçado
na minha vária canção.
III
Nos longes da infância paro;
Há uma inscrição sobre o muro:
Frauta clara, arroio escuro,
frauta escura, arroio claro.
E esse cavalo capenga?
E esse espelho espedaçado?
E a cabra? E o velho soldado?
E essa casa solarenga?
Tudo volta do monturo
da memória em rebuliço.
Mas tudo volta tão puro!...
E, mais puro que tudo isso,
essa anárquica inscrição
feita no muro a carvão.
São temas recomeçados
na minha vária canção.
Luiz Franco de Sá Bacellar (Manaus, 4 de setembro de 1928 - 9 de setembro de 2012
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