Só para ver curar minhas pernas partidas
Nas dores eternas
Dos saltos gorados
Eu amo a aparente inconsciência dos loucos,
Embora fique aos poucos nos meus saltos
Desabridos e falhados
Apraz-me, no espelho, esta face esmagada,
à força de querer transpor o além
Da minha porta fechada...
Porém,
Seja o que for, que seja,
Se uma CERTEZA alcanço
E uma mulher me beija.
Que importa
Que eu fique molemente olhando a minha porta
Aberta,
Ou que eu parta e a morte me espreite
Num desfiladeiro?...
E quem virá chorar e quem virá,
Se a morte que vier for a de lá
Certeira e minha...
E merecida como um sono que se dorme
Após a noite perdida?...
E que piedade anda a escrever um frágil,
Na piedade dos ossos
Que trago emprestados...
Que deixarei ficar ao sol e à chuva
E que serão limados
No entulho dos calhaus que também foram rocha?...
Para quê, se mil vezes provoco
Os tombos do chegar e do partir?!
-A minha fragilidade
Foi-me dada
Para me servir
in Poemas Portugueses - Antologia da Poesia Portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI, Selecção, organização, introdução e notas Jorge Reis-Sá e Rui Lage, Porto Editora
Políbio Gomes dos Santos (n. Ansião, 7 de agosto de 1911 — m. Ansião, 3 de agosto de 1939)
Do mesmo autor, neste blog:
Epitáfio
Momento
Radiografia
Poema da Voz que Escuta
Genesis
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