Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
– depois abri o mar com as mãos
para o meu sonho naufragar.
Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre dos meus dedos
colore as areias desertas.
O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio,
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...
Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.
Depois, tudo estará perfeito:
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.
Cecília Benevides de Carvalho Meireles (Rio de Janeiro, 7 de novembro de 1901 — Rio de Janeiro, 9 de novembro de 1964)
Amália Rodrigues canta este poema (sem a última estrofe) neste fado «Naufrágio». Imperdível e comovente!...
1 comentário:
Oi, Fernando!
Cecília sabia ser dramática! Passou um filme em minha mente enquanto lia a poesia. Na voz de Amália Rodriguês, outro espetáculo!!
Como você é simpático ao BookCrossing Blogueiro, venho lhe convidar para participar da 9ª Edição.
Ficarei feliz com a sua presença!
Beijus,
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