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2014-09-23

Sem segredo algum - António Ramos Rosa

Rodeio-te de nomes, água, fogo, sombra,
 vagueio dentro das tuas formas nebulosas.
Como um ladrão aproximo-me entre palavras e nuvens.
Não te encontrei ainda. Falo dentro do teu ouvido?
Entre pedras lentas, oiço o silêncio da água.

A obscuridade nasce. Tens tu um corpo de água
ou és o fogo azul das casas silenciosas?
Não te habito, não sou o teu lugar, talvez não sejas nada
ou és a evidência rápida, inacessível,
que sem rastro se perde no silêncio do silêncio.

O que és não és, não há segredo algum.
Selvagem e suave, entre miséria e música,
o coração por vezes nasce. As luzes acendem-se na margem.
Estou no interior da árvore, entre negros insectos.
Sinto o pulsar da terra no seu obscuro esplendor.


in Volante Verde (1986)

António Víctor Ramos Rosa nasceu em Faro a 17 de outubro de 1924 e faleceu em Lisboa a 23 de setembro de 2013.


Ler do mesmo autor neste blog:
Ninguém me disse: Vai por este caminho de água
A Festa do Silêncio
Este Viver Comum
Vertentes
Não posso adiar o amor...
Poema Dum Funcionário Cansado

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