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2013-10-17

Ninguém me disse: Vai por este caminho de água - António Ramos Rosa

Ninguém me disse: Vai por este caminho de água
ou Segue esta vereda silenciosa
Eu vivia na obscuridade com uma lâmpada negra
e a tortura do infinito na minha cabeça esguia
Mas eu amava os muros com insectos e urtigas
e os campos de verdura leve e os límpidos regatos
Era um homem da terra que queria pertencer à terra
e consagrá-la numa relação viva e fértil
Eu queria construir com a matéria espessa
um edificio solar com amplas vidraças
e um terraço aberto à dinâmica languidez do mar
Não sei se o que fiz tem a solidez flexível
de um corpo vegetal mas com extensas pedras
Os que o habitarem talvez se deslumbrem com as claras planícies
e amem a tranquilidade misteriosa dos vales obscuros
Mas para mim não é mais que um amontoado de folhas
algumas verdes outras secas e todas o vento varrerá


in O Deus da Incerta Ignorância: Seguido De Incertezas Ou Evidencias (2001)

António Víctor Ramos Rosa nasceu em Faro a 17 de Outubro de 1924, faleceu em Lisboa a 23 de setembro de 2013

Ler do mesmo autor neste blog:
A Festa do Silêncio
Este Viver Comum
Vertentes;
Não posso adiar o amor...
Poema Dum Funcionário Cansado

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