CHORA, TERRA, teu pranto
das águas e dos eidos, e dos ares,
as vivas páreas cósmicas da raça
em mantelo de brêtemas envoltas,
que o nosso fim à nossa origem ligam.
Deita nas áureas leiras do horizonte
lavradas de sol-pores e de abrentes,
em adoas de luz a debulhar-se,
as sementes feridas da tua dor.
Harpa de nobres cordas esquecidas,
ceiva teu som no coração retido,
e faz acordes em total latejo
almas, pássaros, rios e paisagens.
Chora, Terra,
teu pranto generoso.
O que todo galego choraria,
em roda de multânime silêncio
e olhares abatidos,
rente do longo corpo derrubado
que fora vivo mastro em luta nua;
perto daqueles beiços,
seca fonte
da verba nunca dantes mais belida;
do peito petrucial,
reflorescido
de mapoulas pampeiras,
que invejam a nascença das chorimas;
junto das postas mãos voltas ao gelo,
onde a eito agromaram da sua arte,
no cerne da galega patronia,
viçosas primaveras.
Chora, Terra,
teu pranto matricial.
O que todo galego choraria,
se inda chorar pudera,
até cobrir de lágrimas o mar.
Valentín Paz-Andrade (n. Pontevedra, 23 abril 1898 -m. Vigo, 19 maio 1987)
Sem comentários:
Enviar um comentário