Sentámo-nos num largo, ao luar divino.
Eu fitava no céu pupilas sonhadoras.
No profundo silêncio um clamoroso sino
Com solene vagar bateu então dez horas.
Depois de acompanhar-te ao ninho onde tu moras,
Erguido num jardim virente e pequenino,
Fiquei a relembrar o teu corpo airoso e fino
E esses olhos de moura, escuros como amoras.
Por longo tempo ainda eu divaguei absorto
Entre prédios sem luz, dum ar soturno e morto,
Ouvindo ao longe o mar num salmo sonolento.
E ao mórbido luar, que ao sono nos impulsa,
A minh’alma bebia essa saudade avulsa
Que dimana da noite assim como o relento…
Augusto de Mesquita Henriques (n. em Santa Cruz das Flores, Açores a 19 de Jun 1871; m. em Santa Crus das Flores em 31 Dez 1923)
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Universalidade II
Spleen
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