Minha doce irmã
Que bom que será
Irmos os dois de viagem!
Irmos os dois viver,
Amar e morrer
Num país à tua imagem!
Os sóis molhados
Nos céus nublados
Têm para mim o encanto
Tão misterioso
Do olhar enganoso,
Que brilha no teu pranto.
Lá onde a calma, o luxo e a beleza
E a volúpia se sentam à nossa mesa.
Móveis já velhos
Polidos como espelhos
Decorarão nosso lar;
As mais belas flores
Misturarão os odores
Ao vago aroma do âmbar,
Lustres cintilantes,
Espelhos distantes,
O esplendor oriental
Hão-de falar
À alma em segredo
A sua língua natal.
Lá onde a calma, o luxo e a beleza
E a volúpia se sentam à nossa mesa.
Vês além no rio
Dormir um navio
De humor vagabundo;
Foi para saciar,
O que possas desejar,
Que veio do fim do mundo.
- À tarde acontece
Que o vale em redor,
O rio, toda a cidade
São jacinto e oiro;
O mundo adormece
Numa quente claridade.
Lá onde a calma, o luxo e a beleza
E a volúpia se sentam à nossa mesa.
in Qual é a Minha ou a Tua Língua, organização de Jorge Sousa Braga, Assírio & Alvim
Charles-Pierre Baudelaire (n. Paris, 9 de Abril de 1821 — m. Paris, 31 de Agosto de 1867)
Ler do mesmo autor, neste blog:
Intangível
Correspondências
Um Hemisfério numa cabeleira
A Alma do Vinho
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