Muitas vezes, a sós, na desventura,
Volvo a mim mesmo um longo olhar austero,
Um olhar que interroga... e considero
Os abismos de fogo da amargura.
Que deus poderá ser o deus severo,
Que fez cair sobre a minha alma impura
A noite do abandono e da tortura,
Em que desvairo e em que me desespero?
Que pecados trouxe eu das outras vidas?
De que faltas antigas cumpro agora
As penas tristes e descomedidas?
Que alma infeliz dentro em minha alma implora?
Em que velhas estrelas escondidas
Fui réu de crimes sem lembrança, outrora?
Poesias, 1949
Múcio Carneiro Leão (Recife, 17 de fevereiro de 1898 — Rio de Janeiro, 12 de agosto de 1969).
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