Ainda ontem não despregavas os olhos dos meus
E hoje fizeste de conta que não me vias
Ainda ontem ficavas comigo até ao acordar dos pássaros
Hoje todos os corvos são cotovias
Como sou tola e tu inteligente
Tu estás vivo e eu petrificada
Oh brado das mulheres de todos os tempos
«Meu amor de que é que sou culpada?»
Para ele lágrimas são água e sangue é água
Lavou-se em sangue e lágrimas de verdade
O Amor não é mãe mas madrasta
Não espere no julgamento piedade
Barcos levam os nossos amantes
Leva-os a branca estrada
Um gemido grassa por toda a terra
«Meu amor de que é que sou culpada?»
Ainda ontem deitado a meus pés
Ao Império da China era igualada
Largou-me as mãos de uma só vez
A vida escapou-me como uma moeda enferrujada
De pé no tribunal como uma infanticida
Aqui estou sem coragem abandonada
Mesmo no inferno dir-te-ei
«Meu amor de que é sou culpada?»
Pergunto à cadeira pergunto à cama
«Porque sou tão desgraçada?»
Já não me beija mais e como se não bastasse
Agora é outra mulher que é beijada
Depois de me habituares a viver no fogo
Tu mesmo me atiraste para a estepe gelada
Eis aquilo que me fizeste
«Meu amor de que é que sou culpada?»
Sei tudo – não me contradigas
Capaz de ver de novo – já não sou a tua amada
Onde o Amor se apaga
De lá se aproxima a Morte com uma enxada
Para quê abanar a árvore – para nada
Na altura certa cai a maçã no chão
- Por tudo, por tudo peço perdão
«Meu amor de que é que sou culpada?»
Marina Ivanovna Tsvetaïeva Марина Ивановна Цветаева (n. 8 Out 1892; m. 31 Ago 1941)
1 comentário:
Gosto muito da poesia de marina Tsetsaieva.Obrigada.
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