Não negues, confessa,
Que tens certa pena,
Que as mais raparigas,
Te chamem morena.
Pois eu não gostava,
Parece-me a mim,
De ver o teu rosto
Da cor do jasmim.
Eu não… mas enfim
É fraca a razão,
Pois pouco te importa
Que eu goste ou que não.
Mas olha as violetas
Que, sendo umas pretas,
O cheiro que têm!
Vê lá que seria,
Se Deus as fizesse
Morenas também!
Tu és a mais rara
De todas as rosas;
E as coisas mais raras
São mais preciosas.
Há rosas dobradas
E há-as singelas;
Mas são todas elas
Azuis, amarelas,
De cor de açucenas,
De muita outra cor;
Mas, rosas morenas,
Só tu, linda flor.
E olha que foram
Morenas e bem
As moças mais lindas
De Jerusalém.
E a Virgem Maria
Não sei… mas seria
Morena também.
Moreno era Cristo.
Vê lá depois disto
Se ainda tens pena
Que as mais raparigas
Te chamem morena!
in 366 poemas que falam de amor: uma antologia organizada por Vasco da Graça Moura, Quetzal Editores
Guerra Junqueiro (n. Freixo de Espada à Cinta 15 de Setembro de 1850* ; m. Lisboa a 7 de Julho de 1923).
Ler do mesmo autor, neste blog:
Introdução (excerto)
A Árvore do Mal
Adoração
Regresso ao Lar
A Moleirinha
Canção Perdida
À Memória de Minha Mãe
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