Uma manhã no golfo de Corinto,
comemos grandes cachos moscatel.
O mar, de leite e azul, tinha veios de absinto;
e o teu corpo, ao sol, como um sabor a mel.
Enlaçámo-nos nus entre loureiros-rosas,
róseos e brancos, alternando, até à praia.
- Não tornam mais a vir as horas dolorosas
sumiram-se ao cair sútil da tua saia.
E boca contra boca, a sorver bagos de âmbar,
bem brunidos de sol, e sempre a arder em sede,
assim ficámos nós até que veio a tarde
deitar-nos devagar sua mística rede.
Mostraste-me a sorrir, no golfo, uma medusa
«Queria viver assim, disseste, a vida toda.»
Tinhamos vinho com resina numa infusa,
e bebemo-lo os dois para acabar a boda.
Fomos nadar depois a água era tão densa,
que nos trazia, mornamente, ao colo,
num puro flutuar, beatitude imensa,
entre reflexos, a arrolar, de rolo em rolo...
A noite veio enfim estendidos na areia,
pusemo-nos então a entristecer calados.
Como dois mármores um tritão e uma sereia
que o golfo adormecia em soluços velados.
António Patrício (nasceu no Porto, a 7 de Março de 1878 e faleceu em Macau a 4 de Junho de 1930)
Ler do mesmo autor, neste blog:
É Uma Tarde de Estio
O QUE É VIVER
Relíquia
Em Prinkipo
Sem comentários:
Enviar um comentário