Ei-la dormindo! Como a branca espuma
que desliza ao quebrar duma onda enorme,
é do seu leito tão plácido...que, em suma,
lembra uma concha onde a Volúpia dorme.
Cerrado o olhar, um céu de ignoto enleio,
o seu corpo febril me surpreendeu...
nudez de acaso, enfim, um céu que veio
como a suprir os lumes do outro céu.
Forma suave, branda, áurea-divina...
-Céu para os lábios, flor que em sonho amado
de puríssimos gozos se ilumina,
sob um chão de luar doce e azulado.
E eu sem poder tocar naquela face...
nem conseguir ao menos esquecê-la!
Eu - como se este olhar, triste, ficasse
a vida inteira condenado a vê-la!...
Vê-la sem a beijar - fosse de leve!
voluptuosa, entre ilusões e alvores,
como um raio de Sol doirando a neve,
como um perfume sobre um mar de flores.
in 366 poemas que falam de amor; uma antologia organizada por Vasco da Graça Moura, Quetzal Editores
«Fogaça foi um desses cedo-mortos que tiveram unicamente na arte como na vida, páginas de mocidade. A poesia de António Fogaça é quase sempre risonha de prazer, voluptuosa, quente d'amor lânguida e macia como essas peçasinhas que ele dóba para as suas amadas que, mesmo morrendo, ficam vivas para ele...» (Manoel de Sousa Pinto in Arte & Vida, nº. 1 - Novembro de 1904).
Ler do mesmo autor neste blog:
Desgostosa;
Os Rouxinóis
1 comentário:
Um poema quente para os parâmetros da época, não? ;) Boa semana! Beijus,
Enviar um comentário