Ilha de Ereira, ó Guernesey dorida,
Onde me exilo a este sol de inverno,
Que irá no meu País, que irá na Vida?
Vai um sol admirável! Hoje o Eterno
Desceu ao Paraíso... E e tanta a vida
Que a maldizem Mas isto, só no Inferno!
Já porque veja ao pé de mim contente,
Sorrindo a pobre gente,
Digo-lhe, exclamo eu
«É porque não cabe no céu!»
De mais não sofro neste meu exílio
Em meio desta vida árida e crua
Eu que nasci para perpétuo idílio?
Voltam Eles: «A nossa fronte sua,
E vós tendes beleza amor erguido,
Olhando os campos, na ascensão da Lua,
Já num olhar de moça adoecido...»
«Sois um Príncipe aqui na vossa aldeia,
É doutor,como vai, vão as searas?
E mais lhe dizem, lindas caras,
Que mãos de bruxa são quem as penteia!»
«Vós sois a Pátria, a inspiração mais alta!»
Mas hoje, sim, é o menos que lhe falta!
«Dais-lhe o génio e a acção!»
Mas ela a mim só me dá consumição...
Lusíadas do povo, ando a escrevê-los,
Vereis então como era outra a sua sorte,
já fiados que tenho os meus novelos,
Se a dobadoira não fiar a morte...
«Jorge de Montemor é vosso irmão!»
Sim: mas onde haverá loira Princesa?
«Princesinhas de Espanha em seus castelos, não?»
Ah! de vós que Senhora Portuguesa,
De vós meu coração,
Que é a Duquesa de Sesa,
Senhora dos meus cantares
Qual de vós a Marquesa de Comares?
«Mas nenhuma, nenhuma
Más es para la admiración que para la pluma!»
Ilha de Ereira, ó Guernesey dorida,
Que irá no meu País, que irá na Vida?
(Rapsódia do Sol-Nado, 1916)
Extraído de "Poemas Portugueses Antologia da Poesia Portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI", Porto Editora
Joaquim Afonso Fernandes Duarte (nasceu na Ereira, concelho de Montemor-o-Velho a 1 de Janeiro de 1884 e morreu paraplégico em Coimbra a 5 de Março de 1958).
Ler do mesmo autor, neste blog Rosas e Cantigas; Vitral
Estepa
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