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2011-02-18

O Alvo - Lêdo Ivo

Não quero achar o que os outros perderam:
as moedas no chão, os guarda-chuvas
esquecidos nos ônibus, e a vida
deixada por engano sobre o asfalto.
Ao que ninguém viu, aspiro; ao que existiria
em forma de mar e árvore, se a natureza habitual não irrompesse
com suas sombras e cigarras e cascatas.
Quero, sonho e admiro e inédito
como a noite no caracol de uma escada
contudo perto das constelações se eu pudesse vê-las de outro planeta.

Não me comove o irretornável nem o tempo caído.
Em jogo descoberto, crio a minha emoção
e à janela contemplo a noite formal
e eu mesmo sou ogiva aberta aos grandes astros.
O que se perdeu, vai-se embora, como os anéis
separados das mãos, como a ventania
se afasta das bandeiras no momento das bonanças.
Sono perdido; zonas de transição que serão eternamente minhas; luz oculta em covil
não me volto para achar-vos. E sempre adiante busco
minha paisagem impor-se nas paliçadas alheias.


in Poesia Brasileira do Século XX, dos Modernistas à Actualidade; selecção, introdução e notas de Jorge Henrique Bastos, Antígona

Lêdo Ivo nasceu em Maceió, Alagoas, Brasil a 18 de Fevereiro de 1924.

Ler do mesmo autor, neste blog: Soneto de Abril

1 comentário:

Lúcia Laborda disse...

Querido Fernando; todos nós temos nossos alvos e muitas vezes desistimos deles, quando se tornam muito complicados.
Belo poema!
Bom fim de semana! Beijos

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