De qualquer ilha escondida
no quente mar colorista,
veio essa Baker trazida
pla mão da 5ª avenida:
o roteiro fantasista.
Essa negra Josefina
deixou Colombo vexado
ligando a terra-menina,
que é branca e Greco-latina,
ao continente sobrado...
Um demónio de negrura:
trópico aroma se exala...
Seu corpo a imagem e figura
de um brônzeo clima, em tontura,
cercando à noite a senzala!
O ritmo antigo é perdido,
outro mundo volverá.
Nesta Europa sem sentido
a Baker marca o ruído
e o mediano o Dekobrá!
Façam batuque, batuque!
plantem na Europa o Haiti.
- Caliça que a alma amachuque!
que caia o tecto de estuque
no Senhor de Valery!
Velha casa brazonada,
deu-lhe o vento de ruína.
A celta flôr desfolhada,
morreu de tédio, pisada
aos pés dessa Josefina!
in Poemas Portugueses Antologia da Poesia Portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI, Porto Editora
LUÍS DE MONTALVOR era o pseudónimo literário de Luís Filipe de Saldanha da Gama da Silva Ramos, que nasceu em São Vicente de Cabo Verde a 31 de Janeiro de 1891 e pereceu afogado no rio Tejo, em Lisboa, juntamente com a família, num acidente automóvel aparentemente suicida, a 2 de Março de 1947.
Ler do mesmo autor, neste blog: Tarde; Infante - I
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