Dezembro, dia pluvioso. Vem
Deste céu de burel um spleen mortal
Onde as almas se atolam como alguém
Que caísse num vasto lodaçal.
Olho em torno de mim: as cousas mesmas
Têm um ar de desgosto sem remédio...
E as horas vão, morosas como lesmas,
Rastejando por sobre o nosso tédio.
O véu cinzento e denso que se espalha
Lá por fora, empanando as perspectivas.
Dir-se-á também que as almas amortalha
E afoga as suas vibrações mais vivas.
Lisboa, Edições Ática, 1973 (1ª ed.)
Roberto Augusto de Mesquita Henriques (n. Santa Cruz das Flores, 19 de Junho de 1871 — m. Santa Cruz das Flores, 31 de Dezembro de 1923)
Ler do mesmo autor neste blog:
Aves do Mar
Abandonadas
Universalidade II
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